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O Ritual do Bastão Negro de Lingüista

por Phil Bartle, PhD

traduzido por Leandro Chu


Aprendi sobre o ritual do bastão negro (apoma tuntum) enquanto fazia minha pesquisa de doutorado — uma etnografia do crescimento de uma comunidade através da migração cíclica — para a Universidade de Gana (1971-79).

Como meu trabalho era sobre a cultura e a organização social do povo Kwawu, eu seguia os membros da comunidade de Obo pelos seus diversos lugares de migração, e observava a ligação entre suas moradias e a manutenção de uma comunidade extensa. Usei variados métodos de pesquisa, incluindo pesquisas domésticas, entrevistas qualitativas e observação de comportamentos, os quais me levaram à descobertas agradáveis e inesperadas.

A palavra okyeame em akan quer dizer porta-voz, embaixador, diplomata, intérprete, confidente, conselheiro ou assistente de um chefe etc.Na corte, todas as orações são em forma de libações — derramamento no chão de grogue quente (líquido alcoólico extraído da palmeira) ou schnapps (aguardente, nos países de língua alemã) como oferenda aos deuses e ancestrais — executadas pelos okyeame ou indivíduos representando-os. Nesse momento, pessoas do público não podem falar diretamente com o cacique, pois nele está incorporado seus ancestrais matrilineares. O okyeame, portanto, é usado como intermediário. Muitas vezes, se palavras sérias e diretas demais são usadas, ele as "traduz" para um tom mais sutil e educado. Neste tipo de cerimônia, todos os anciãos presentes, às vezes, são pedidos para falar a "língua dos mortos", ou seja, falar usando provérbios tradicionais, podendo assim esconder suas deliberações do público, que geralmente não sabem o que tais provérbios implicam.

Um dia especial é reservado a cada seis semanas no calendário tradicional Akwasidae (Bartle, 1978:82). Este é um dos dabone, no qual não se deve ter funerais ou chegar aos ouvidos do cacique notícias de morte. Quando tal adae é dito como kese (grande), organiza-se um grande durbar — palavra indígena cunhada pelos ingleses no período colonial —, chamado de afahye em Twi. Sob uma árvore sagrada (Ohantrase) do lado de fora do palácio do cacique, o povo se reúne formando um grande círculo, e os sacerdotes e os "vice-caciques", em sentido horário, percorrem este círculo cumprimentado todos alí presentes. Os sacerdotes e as sacerdotisas realizam esse ato mais de uma vez se possuídos por seus deuses, que por sua vez fazem a mesma coisa. Durante os cumprimentos, há bastante batucadas de tambor e dança. O afahye em um adae kese é uma cerimônia pública que reforça a identificação e solidariedade da comunidade.


Obo akyeame at an adae kese

O okyeame chefe obo pode sentar-se sobre os joelhos de outro okyeame

O cacique obo, chefe também da Divisão Nifa do Kwawu — um gabinete muito antigo —, possui sete okyeame. Cada um é chefe de um clã matriarcal dentro da confederação, o que constitui o oman (estado) de Obo. O okyeame chefe é um membro do clã Aduana ('cachorro'; Lycaon pictus) — mesmo grupo do cacique —, que existia em Kwawu muito antes de se ter uma pessoa dominante. O cacique, proveniente do agora chamado Brong Ahafo (fontes do rio Tano) alí chegou e tornou-se o chefe deste clã.

O pouco que se sabe é que em cada Adae (kese ou não) — por volta das cinco horas da manhã, já que o amanhecer ocorre às seis —, o cacique, os okyeame e os anciãos se encontram no palácio do cacique em uma sala onde se guardam as banquetas e se realizam libações de aguardente aos ancestrais. O ritual é muito bonito, já que os anciãos e os okyeame respondem ao okyeame chefe com cantos, de maneira melódica e harmonioza como monges cristãos em seus cantos gregorianos.

Alguns anos antes, quando eu era professor numa escola em uma cidade próxima, fui "adotado" pelo cacique obo anterior, que faleceu enquando estive no Canadá.Portanto, quando retornei à Gana como estudante de Sociologia em Legon, graças à uma bolsa de estudos da Commonwealth ('Comunidade Britânica') paga pela Universidade de Gana, tive que me apresentar novamente em Obo, onde fui bem recebido pelo novo cacique e aceito como seu filho em honra ao seu antigo chefe. Ele brincou dizendo que herdou todas as propriedades e responsabilidades de seu tio materno, mas que não diria em qual das duas eu me encaixava.

No entanto, já que ninguém pode herdar algo de um pai em uma organização social akan matrilinear, só me restava ser o filho do cacique. "É dever do pai ajudar na educação de seus filhos. O estado de Gana pagou suas despesas escolares e acomodações, mas eu posso abrir as portas para os seus estudos de doutorado. Se você prometer guardar segredo, direi a todos os 'vice-caciques' e sacerdotes para lhe contarem e lhe ensinarem o que desejar", disse o cacique. Ele era bom com as palavras. Ficou decido, então, que eu teria acesso a todas s instalações e rituais. Isso valeu mais do que alquer bolsa de estudos que consegui.

Também fui adotado por um clã matriarcal como sobrinho de Nana Kwame Ampadu, Chefe da Asona ('corvo branco') e dos clãs Dwuminas de Obo, e, também, Gyaasewahene ('subministro' do interior) sob o ofício do Gyaasehene ('Ministro do Interior' do oman de Obo). Nana Ampadu era o pai de um músico — que se tornaria o líder da banda musical African Bothers — que colocou em suas música diversas histórias tradicionais de seu povo contadas por seu pai. Nana Ampadu foi um dos meus informantes-chave (só perdia para o Kontihene) e fonte de muitas das histórias e culturas gerais akans, kwawu e obo em particular. Ele era maternamente relacionado ao Okyenhene — Chefe do Akyem Abuakwa em Kibi — e aos clãs Dwumina (Asona), que dominam a Divisão Benkum de Kwawu.

Os okyeame obo ensinavam-me as rezas usadas nas libações. Mesmo sendo abstêmios, missionários cristãos europeus e americanos quando vinham à corte do cacique, traziam garrafas de aguardente. Teologicamente, eles não gostavam de saber que tal bebida seria usada em libações aos deuses e ancestrais, mas estava claro que não se sentiam à vontade, pois acreditavam que tais espíritos tradicionais eram na verdade demônios ou o diabo. Porém, se quisessem construir uma igreja, uma escola ou uma clínica, iriam precisar primeiro da benção dos caciques e dos anciãos. O cacique obo sentia prazer em usar frases como "irmãos e irmãs de Cristo" e "Em nome de Cristo, nosso salvador", as quais pareciam bastante com a sua teologia sincrética africana, no entanto, não é de conhecimento dos protestantes conservadores. Sendo eu um okyeame aprendiz, o cacique tinha também um certo prazer irônico ao me pedir (um jovem europeu), que fizesse as libações para ele sempre que missionários viessem à sua corte.


Akyeame em Adae Kese

Okyeame em um Adae Kese num campo de futebol em Mpraeso

Em um sábado, antes de um Akwasidae, o okyeame chefe obo pediu-me que fosse à sua casa de ancestrais uma hora antes das orações das cinco horas no palácio do cacique. Lá, testemunhei um ritual que eu mais havia ouvido falar ou visto, o ritual sagrado do bastão negro do okyeame.

Deixe-me explicar primeiro um pouco sobre o apoma, o bastão do okyeame akan.

Embora alguns especialistas vêem a origem do apoma no bastão prateado que era carregado pelo governador do castelo em Elmina, e portanto relacionando-o com cetro ou a vara negra de ébano (Vara Negra) da realeza européia, não acho que isso seja importante. O que os akans fizeram com o bastão do okyeame, foi torna-lo unicamente akan, e é dessa maneira que deve ser visto.1O bastão tem a mesma forma e tamanho daqueles usados por escoteiros para caminhadas. Quem sabe não foi Baden Powel que apresentou tal objeto para os escoteiros após ter ouvido sobre o seu uso pelos anciãos ganêses?

Há algumas inscrições ou símbolos na parte de cima do bastão. Aquele usado pelo okyeame chefe obo possui a inscrição de um cão, o totem de Aduana, o clã real matriarcal de Obo. Cada bastão pertencente a cada um dos sete okyeame de Obo é folheado a ouro. Talvez por causa da boa reputação de Obo por suas riquezas. Em uma foto do cacique supremo dos kwawus tirada com a chegada de Ramseyer em 1888, os bastões tinham o topo bifurcado.

Na corte do cacique, quando o(a) okyeame se levanta para falar, ele(a) segura o bastão, e é ouvido(a) com respeito, pois o que é dito naquele momento é oficial e formal.

Na sala dos tamboretes dos antepassados do okyeame chefe obo, vi a então coleção de tamboretes tingidas de preto. Porém, na mesa no centro da sala havia um bastão quebrado, também tingido de preto como se fosse dos antepassados.

Quando um cacique ou um ancião morre, seu tamborete de banho é, então, preparado para se tornar um tamborete ancestral. Primeiro marca-o apenas com uma faixa preta e deixa-o na sala de tamboretes dos antepassados. Pela história, sabe-se que clãs matriarcais também possuem seus altos e baixos — às vezes, sua fama, poder e riquezas aumentam e diminuem. Com isso em mente, alguns ancestrais podem ganhar um status maior que o de outros. Membros da linhagem podem receber cargos na dentro da corte do cacique ou em qualquer outra parte da comunidade. Um antepassado, ou o seu tamborete, pode vir a receber postumamente um maior status e mais respeito.

Tornar-se completamente negro é a primeira etapa de quando se recebe um status maior. Para isso, os guardiões dos tamboretes, geralmente anciãos, homens ou mulheres (sem estar no período de menstruação), usam o pó de boto.

O boto é um ingrediente interessante da medicina tradicional akan. Ele é composto por carvão vegetal, diversas ervas medicinais, e para unir isso tudo usa-se clara de ovo para tornar o tamborete negro. Lá, uma pequena cicatriz na bochecha de uma criança, não é uma cicatriz de marcação tribal (como das tribos Yoruba), mas uma conseqüência da "vacina" contra a "febre" (malária) aplicada por um herborista tradicional. Tais ervas são encontradas dentro da casca de certas árvores (parecidas com árvores da América do Sul que produzem quinina, como a Cinchona), e podem reduzir a febre e ajudar o corpo no combate à malária. O mesmo pó de boto, depois de misturado a clara de ovo e aplicado no tamborete de um ancestral, endurece formando uma laca. Se o ancestral tem seu status aumentado, às vezes depois de um século, coloca-se uma faixa de prata em volta de seu tamborete, e, talvez, uma segunda faixa em ângulos perpendiculares à primeira.

O bastão que vi na mesa parecia uma vara comum. Não havia inscrições, mas mesmo assim era manuseado com reverência e foi devidamente tingido de negro com boto, como se fosse um tamborete ancestral.No ritual havia apenas eu e os sete okyeame, dos quais um era mulher. Um dos okyeame, no lugar do okyeame chefe, fez uma libação de aguardente enquanto chamava por Deus (Sábado Brilhoso Supremo), pela Mãe Natureza (Quinta-feira da Terra), pelos deuses e pelos antepassados, alguns por nomes, outros de maneira geral. Depois pedia a benção de todos os okyeame e que o trabalho que fizeram neste dia adae, especialmente aquele em público na corte do cacique, seria um bom feito, com dignidade e sem erros.

Depois o okyeame chefe obo me explicou que a inscrição original havia sido removida, banhada em ouro — um dos sete okyeame era um ourives, e fazia trabalhos como este nos artefatos reais — e colocada em seu próprio bastão, herdado de seu tio por parte materna.2

Quando um cacique, durante o banho, senta no seu tamborete, este pega um pouco do "poder" de seu dono e permanece com este poder mesmo depois de sua morte. O mesmo acontece com um okyeame e o seu apoma.

Após o ritual sagrado do apoma negro na casa dos antepassados do okyeame chefe, todos andamos até o palácio do cacique para fazer no tamborete ancestral do cacique o ritual sagrado das 5 da manhã do tamborete negro dos antepassados.3

Notas:


1. É possível traçar a guitarra como um instrumento de origens espanhola e árabe, mas a forma como músicos afro-americanos de Blues a utilizaram, acabou tornando-a nitidamente afro-americana.


2. Apesar da palavra wofa ser traduzida por "tio", pode ser também um membro idoso do clã matriarcal. Mas não pode ser usada para se referir ao irmão do seu pai.


3. Apenas um dos tamboretes dos antepassados é colocado na mesa no meio da sala. Os outros, cada uma com o nome de um ancestral, ficam encostadas na parede. O tamborete escolhido é aquele que o cacique tocar de olhos vendados durante os rituais dos tamboretes.

Referências:
Robert S. Rattray é autor de uma obra clássica sobre a organização social akan.
Rattray, R.S. (1923) Ashanti, Oxford, Clarendon Press, reeditado em 1969
___ (1927 U) "Kwawu", Manuscrito No. 108, Hand written. Três livros de anotações de campo (II, III and IV) pp. 3001-3239, Royal Anthropological Institute Library, London
___ (1927) Religion and Art in Ashanti, Oxford. The Clarendon Press
___ (1929) Ashanti Law and Constitution. Oxford. The Clarendon Press. reeditado em 1969 OUP
(Rattray descreve os rituais dos tamboretes negros dos antepassados, mas não os do apoma negro ancestral). Este ritual é baseado em minhas próprias anotações de campo e não tem nada a ver com as do Rattray. A todos que desejam estudar mais a fundo sobre os akans, recomendo que leiam Rattray.

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