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Pequenas curiosidadespor Phil Bartle, PhDtraduzido por Eliane GarcezIntrodução Eu estive pensando sobre algumas informações soltas que não se encaixam em um artigo acadêmico específico, mas que podem ser interessantes para alguém que esteja estudando etnografia. É esse o objetivo deste estudo. Conforme me ocorrerem outros dados, eu vou acrescenta-los aqui, portanto volte a consulta-lo de vez em quando para verificar se foram feitos acréscimos. Animais e Seres Humanos O povo Akan faz uma grande distinção entre animais e seres humanos. Eles não reconhecem que nós, Homo sappiens sapiens, somos só outra espécie de primatas. Por isso o uso da palavra "animal" é considerado uma ofensa. Um dos piores insultos é chamar uma pessoa de "aboa"que significa besta ou animal. Os Kwawu fazem uma piada étnica sobre seus irmãos e irmãs Akwapem. Os Akwapen são notórios por sua excessiva cortesia. Os Kwawu dizem que quando um Akwapen insulta alguém ele diz "Me pa wo kyew, wo ye aboa" que se traduz "Por favor, você é uma besta". Nesse caso "por favor" tem o significado da expressão "eu tiro meu chapéu para você" e também se subentende "desculpe". Os Akan não dão nomes humanos para seus animais. Os mascotes para companhia são raros. Por exemplo, só caçadores possuem cachorros e, recentemente, algumas pessoas ricas, em áreas urbanas, por motivo de segurança. Ocasionalmente um chefe pode ter um gatinho ou um gato no seu palácio e algumas pessoas dizem que isso é remanescente da antiga religião Egípcia. Várias vezes o povo Kwawu tem expressado indignação com europeus expatriados, residentes no país, que dão nomes de pessoas para seu cães de companhia. É um insulto ainda maior se usarem nomes Akan, especialmente nomes espirituais. Uma vez o Kontihene de Obo disse que sua abusua (família) possuía um cachorro. Ele não explicou, mas deu a entender que era um cão de caça. O nome do cão era "Como se" porque quando o cachorro olhava para você era "como se" ele entendesse tudo que você tinha dito. Quando eu lecionava na Universidade de Cape Cod, uma pessoa me deu um cão de companhia e eu lhe dei o nome de "Só você" porque estava sempre metido em confusões. Meus amigos Akan aprovaram o nome. Você tentou Quando um povo aprende uma segunda língua, muitas palavras e frases são traduzidas literalmente e utilizadas como seriam usadas na lingua materna ou no idioma natal, em vez de como são usadas na linguagem importada. Esse é o caso do povo Akan de Ghana que fala inglês. Várias palavras e frases são usadas de formas diferentes das usadas pelos Anglo nativos. Em 1965, eu e mais trinta e pouco canadenses fomos para Ghana como voluntários da organização Cuso. A adaptação a uma nova cultura foi uma notável experiência para todos nós. Nós chegamos em Setembro e nos feriados da Páscoa seguinte nos reunimos para fazer uma festa e para compartilhar experiências e estórias. Desconfio que várias foram aumentadas. Uma jovem estava contando como ela fez um bolo de aniversário para um professor, colega dela. Eram os ultimos dias do regime de NKrumah e, com o ajuste de preços, havia escassez de tudo. Durante semanas, ela se esforçou para conseguir farinha, açúcar, ovos e leite em pó para fazer o bolo e assim demonstrar seu agradecimento ao colega por todo apoio e atenção recebidos por ela. Ela teve que lidar com um forno velho que não funcionava bem com gas propano e não tinha uma chama confiável. Quando chegou o dia e começou a festa de aniversário, ela entregou o bolo e seus amigos disseram "Você tentou" e ela começou a chorar. No Canadá quando a palavra "tentar" é usada numa sentença ela significa fracasso. Uma mãe diria isso para seu filho quando ele tentou fazer algo mas não conseguiu, para que ele se sinta menos triste e pelo menos orgulhoso de ter tentado. In Akan, o verbo "bo moden" significa o contrário, é um elogio pelo esforço, demonstrando que você foi bem sucedido. Enquanto seus amigos a estavam cumprimentando pelo seu trabalho árduo e bem sucedido em fazer o bolo, ela achava que eles estavam dizendo que sentiam muito, que valeu o esforço, mas que ela tinha fracassado. Você não tem que ir Existe uma variação similar de interpretação na negativa do verbo "ter que" no modo imperativo. No Canadá, quando dizemos "você não tem que ir" significa que a pessoa está livre para decidir ir ou não ir. O povo Akan, quando fala ingles, traduz literalmente o equivalente de Twi. A mesma senteça significaria que a pessoa está proibida de ir, que ela tem que não ir. Diferentes partes do corpo A rainha Vitória não está ainda definitivamente morta no Canadá. Nesta semana (Dezembro de 2004) a mãe de um jogador de hoquei foi banida de todos os jogos porque ela exibiu os seios para distrair o time adversário do time do seu filho. Da mesma forma que nossos vizinhos do sul. Uma cantora popular, Janet Jackson, causou uma comoção nacional quando um dos seus seios ficou visível na TV durante uma apresentação dela no intervalo de um jogo de futebol. A reação à exibição do seio foi tão intensa que poderia se pensar que se tratava de alguma coisa ruim ou toxica. As mães se sentem desconfortáveis quando tem que amamentar seus filhos nos onibus ou nos centro comerciais e os homens fazem piadas indecentes indicando que para eles os seios são objetos sexuais. Eu perguntei aos anciãos de Ono qual era a atitude com relação ao seios. Eles disseram que, històricamente, os seios eram vistos como órgaos práticos para amamentar as crianças e o fato de ve-los não provocava nenhum sentimento libidinoso entre os homens. Foi só quando os missionários Suíços chegaram, com suas inibições puritanas, que as pessoas começaram a pensar em cobrir os seios. Hoje nas escolas e na universidade, sem falar nas igrejas, há uma grande pressão para manter os seios cobertos, em resposta aos valores importados da Europa. As coxas, em contraste, são consideradas muito atrativas sexualmente para os homens. Os anciãos criticam as influencias ocidentais que trouxeram as minisaias e o prazer das jovens em exibir as coxas que provocam excitação entre os homens que as veem. Nos acampamentos domésticos, especialmente nas vilas mais remotas onde eu fiz minhas pesquisas, as mulheres exibem os seios sem nenhum constrangimento ou inibição. Limpar o nariz em público não é visto como um comportamento particularmente grosseiro exceto onde as atitudes européias tiveram influência. Para comer e dar ou receber presentes devem se usar a mão direita, enquanto que para limpar-se depois de defecar ou urinar deve usar-se a esquerda. Espigas de milho secas são usadas com melhores resultados que o papel higiênico. Depois da relação sexual, a mulher limpa o penis do homem com sua roupa e usa a mão esquerda para fazer isso. Eu tenho visto pessoas educadas, inclusive padres e pastores cristãos, usando a mão esquerda para receber presentes e demonstrar que eles eram cristãos seguindo os costumes europeus em vez dos africanos. Os missionários fizeram um bom trabalho com eles. A maioria dos europeus, incluindo os missionários, são alheios e indiferentes às distinções entre a utilização da mão esquerda ou direita. Homossexualidade Algumas igrejas organizadas mundialmente, como a Anglicana, descobriram que existe uma grande diferença de comportamento: as pessoas na America do Norte são muito tolerantes com o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a homossexualidade, enquanto na Africa elas tendem a opor-se fortemente a ambos. Minha suposição é que os clérigos da Africa mantem os valores dos missionários do século XIX e as igrejas da Europa e América do Norte evoluiram desde então. Minhas primeiras pesquisas, enquanto estava fazendo meu trabalho de doutorado, tiveram uma resposta quase unânime que a homossexualidade é desconhecida na cultura tradicional, foi provàvelmente introduzida pelos europeus e não é conhecida, entendida ou praticada pela maioria das pessoas. Eu tive um colega e amigo, um americano fazendo seu mestrado em estudos Africanos na Universidade de Gana, Lego, que era homossexual. Doug Angel. Ele me contou que sabia que a comunidade homossexual masculina em Accra, a capital, tinha uns seiscentos membros. Infelizmente ele morreu depois em um acidente de motocicleta. Mais tarde conversei com uma mulher sobre suas experiências em internatos. Ela me contou algumas coisas que outras repetiram depois. Meninas em internatos se envolvem em relações homossexuais, desenvolvem relações amorosas e mantem essas relações depois de acabar a escola e através de um ou mais casamentos heterosexuais. As relações amorosas nas escolas de meninas são consideradas inocentes, parte do serviço das mais jovens para as mais velhas, mas muitas encobriam relações sexuais. A palavra "supi" era o nome dado para uma parceira e dava a entender que era uma relação inocente. Podem ser encontrados mais dados na Internet sobre práticas homossexuais entre africanos por William N. Eskridge Jr. Lidando com a linguagem Bem antes de eu começar minha pesquisa na sociedade Obo, incluindo o papel dos akyeame (linguistas) e o grande valor que se dá para a habilidade de lidar com a linguagem, eu me interessei pelas frases de duplo sentido. Meu primeiro "Gananismo" manifestou-se quando eu era professor, em 1965, e chegando em casa uma tarde li uma nota afixada na minha porta. Um colega professor passou para uma visita mas eu não estava em casa naquele momento. Eu li na nota "eu vim e conheci sua ausência" . Divertiu-me o fato de um evento que não aconteceu ser descrito de uma forma positiva. Com o passar do tempo, me encantava ver as formas criativas com que o inglês era usado. Por exemplo "o café está chamando" é uma forma gentil de se dizer que está com fome. Humor Minha introdução aos prazeres do humor entre os Kwawu aconteceu alguns dias depois de começar meu primeiro trabalho como professor na St. Peter em 1965. Todas as janelas das salas de aula tinham telas. Os fios metálicos eram leves e fracos e o espaçamento era de oito centimentros ( 3 polegadas) de largura. Os espaços eram muito largos para manter os mosquitos do lado de fora e as aulas se interrompiam sùbitamente se uma mosca tsetse entrava como um bombardeiro B52. Comentei que as telas eram muito fracas para impedir a entrada de ladrões e inúteis para manter do lado de fora os insetos e mesmo pássaros. Um de meus alunos se levantou ( sim os alunos levantam para se dirigir ao professor) e me disse "Por favor professor, elas estão lá para não deixar os elefantes entrarem". Bem, embora Kwawu seja històricamente famosa pelos seus elefantes e caçadores de elefantes, e o elefante esteja no escudo do estado, o último elefante foi visto por volta de 1910 e os caçadores foram bem eficientes em eliminá-los. Eu disse para os alunos "Nenhum elefante vai tentar entrar pelas janelas". Então outro aluno levantou sua mão e quando lhe dei permissão levantou-se e disse: "Está vendo, senhor? Funcionou". Comecei aí minha educação no humor Akan. Posições na relação sexual No ano passado, enquanto estava dando uma conferência como convidado na Universidade de Victoria, um estudante perguntou sobre posição sexual. Eu estava falando sobre o papel da linhagem materna no aumento do estatus, riqueza e prestígio das mulheres e sua independência dos pais e maridos. Ver Ginocracia Encoberta. Ele perguntou: "Isso significa que as mulheres vão ficar por cima durante a relação sexual?" Eu lembro que quando eu era estudante de pós graduação na UBC eu vi um comentário em algum periódico falando sobre a posição preferida para o sexo entre os Nuer no sul do Sudão. Quando eu perguntei aos meus informantes Kwawu, eles me disseram que o sexo era negócio de homens porque pertencia à parte branca do universo ( veja meu artigo Tres Almas) Por recato, não era uma coisa que se falava em público frequentemente. Entretanto, minha pergunta não era inconveniente porque era uma questão puramente acadêmica e não se falava sobre pessoas concretas. Geralmente, a posição preferida era a que o homem e a mulher deitavam de lado de frente um para o outro, a perna direita da mulher debaixo da perna esquerda do homem e a perna esquerda dela em cima da perna direita dele. Isso não era rigidamente seguido. O homem decidia as alternativas a serem seguidas porque a relação sexual está no âmbito masculino ( branco) de controle. Ver "Algumas Notas sobre os hábitos sexuais Zande" de Evans-Pritchard, E.E. American Anthropologist Fevereiro de 1973 Vol. 75(1): 171-175 Não cumprimente Em uma sociedade como a Akan, onde saudações e cumprimentos aos demais são tão importantes, é interessante verificar que algumas vezes essas saudações são evitadas e até proibidas. Se alguém está se dirigindo ao banheiro, ele não cumprimenta outras pessoas e nem responde a quem o cumprimenta. Isso pode ser porque há algum sentido negativo no lugar para onde se dirigem. Os Kontihene me explicaram que se voce para para cumprimentar, você talvez seja obrigado a manter uma conversação. Isso pode ser desastroso para a limpeza de suas roupas. A pessoa, quando se levanta de manhã, deve pelo menos lavar o rosto antes de cumprimentar alguém. Ensinando as crianças À noite, quando se está comendo o "fufu", é considerado grosseiro por a mão esquerda no chão. A mão direita é usada para comer. No entanto, se diz para as crianças que a comida vai passar pelo braço esquerdo para a terra. Nenhum adulto acredita nisso, mas a advertência é uma forma de fazer as crianças seguirem os costumes protocolares. Também é considerado grosseiro ficar em pé enquanto está comendo. É um choque cultural ir para a Europa e ver as pessoas apressadas, em pé, tomando café em mesas altas nas estações de trem. "Y" tem uma longa cauda Na sociedade canadense nós encorajamos as crianças a explorar e descobrir coisas por si mesmos. Isso contribui para que sejam mais criativas e temos em alto conceito a invenção e a criatividade. Uma criança na pré escola pode deixar seus pais loucos perguntando "por que?" para quase tudo , mas as crianças não são punidas por isso. Na sociedade Kwawu, o respeito pelos mais velhos e pela autoridade tem precedência sobre o estímulo para a descoberta e a exloração independente. A pergunta "por que?" é vista quase sempre como falta de respeito. É esperado que a criança ouça e aceite tudo que seus pais ou professores dizem. Alguns sociólogos dizem que essa é a razão porque há poucas invenções mas muitas imitações na sociedade africana. Eu não considero que a questão está fechada, mas eu notei a importância das crianças mostrarem respeito e não serem encorajadas a pensar por eles mesmos. Uma criança inquisitiva é orientada a não criar problemas com o provérbio ""Por que" tem uma longa estoria" Moeda Quando eu vim a Gana pela primeira vez, em 1965, o país ainda usava a sua prórpia moeda, desde a independência em 1957. Durante o período colonial, 1901-1957, na Gold Coast a moeda britânica tinha valor legal. Essa moeda tinha uma divisão diferente: doze centavos equivaliam a um shilling ( palavra de origem alemã) e doze shillings equivaliam a uma libra. O novo governo manteve o centavo e determinou que cem centavos equivaliam a um cedi. O nome da nova moeda, o "cedi", era a palavra Akan para concha e foi muito usada na Africa antes da introdução das moedas européias. Até hoje se considera que as conchas tem seu próprio poder espiritual e são costuradas dentro dos cintos e barra das saias vestidas pelos deuses tradicionais. Os anciãos e sacerdotes das religiões africanas não gostaram de ver as conchas, e também as trancinhas, serem usadas nos cabelos dos Afro Americanos como moda, porque eram símbolos religiosos da sua cultura antiga. As máquinas de escrever tinham um símbolo, o "c" ( sinal de centavo para os americanos, não usado pelos britânicos) e o usaram para as novas cédulas. Enquanto isso ( 100 centavos= 1 cedi) fazia sentido para os acadêmicos e burocratas sentados atrás de suas mesas em escritórios com ar condicionado, causou muita irritação nos mercados. Para as mulheres dos mercados, o cedi era "oito e quatro" ( 100 centavos = oito shillings e quatro centavos). Isso não foi o suficiente para provocar a mudança do governo, mas foi uma das várias reclamações que as poderosas mulheres dos mercados tiveram contra o governo socialista Kwame Nkrumah. Os pequenos comerciantes que vendiam coisas de um centavo ou um shilling não tinham problemas, mas as ricas mulheres dos mercados que tinham um capital de milhares e centenas de milhares não se sentiam confortável com o oito e quatro, e viam isso como mais um, mesmo que menor, símbolo da antipatia socialista contra os negócios. ( Elas também se opuseram à fixação de preços e quantidades do governo socialista e ao "poder subterrâneo" onde funcionários do governo concediam, injustamente, às suas amantes, artigos racionados. Depois que o Kwame Nkrumah foi derrubado do poder em 1966, o governo emitiu uma moeda nova, chamado Cedi Novo, que tinha uma forma diferente de calcular suas divisões. A base era a cédula do cedi em vez do centavo. Centavos velhos e novos foram declarados de mesmo valor, embora na prática não eram. Cem centavos equivaliam a um cedi novo, que era avaliado em mais ou menos $1.20. A gíria para um veículo que fazia uma determinada rota, em que passageiros sobem e descem ao longo do caminho, é "tro tro". Esse nome veio de "tro"que era a palavra vernácula para tres centavos. Com a introdução do cedi, foram cunhadas moedas de dois e meio centavos que ficaram conhecidas como "tro". Tudo isso aconteceu no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta. Bem mais tarde, durante os anos do regime Rawlings, o FMI fez pressão e exigiu que o cedi flutuasse no mercado aberto, o que fez com que o valor internacional do cedi caísse muito. Por volta de 2004, um dolar americano valia mais ou menos 1800 cedis e as moedas aintigas não eram mais encontradas. Para fotos de varias celulas bancárias de Gana veja: http://www.banknotes.com/gh.htm Este documento é simplesmente um conjunto de pequenas observações. Volte a consultá-lo e talvez tenha acréscimos.
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