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O milho e os Europeus

por Phil Bartle, PhD

traduzido por Eduardo Félix

A planta de milho, espiga [Zea mays subespécie mays], é originária da América Central (Balsas River, Mexico).  Em tempos era um pequeno sabugo, mas durante séculos de plantação selectiva, ficou com o tamanho maior que tem hoje (como aconteceu com o óleo de palma do Ocidente Africano)


aburu (Zea mays subespécie. mays)

Os fenícios fizeram comércio ao longo da costa Ocidental de África durante três mil anos.  Os seus descendentes são os comerciantes Sírios e Libaneses que se estabeleceram nas cidades e povoações costeiras. Os comerciantes europeus mais antigos, os Portugueses, chegaram pela primeira vez a Elmina em 1472.  Chamaram-lhe "A mina" devido à enorme quantidade de ouro para venda. Dez anos mais tarde, construíram o Castelo Elmina, em 1482, dez anos antes de Colombo.  Não havia procura de escravos no Pacífico, na altura, porque o hemisfério Ocidental não era conhecido e as plantações de açúcar estavam ainda por construir.  Por troca com ouro, os Portugueses vendiam escravos (de São Tomé) à população de Elmina.

Os documentos escritos não revelam até hoje o que era comido ao longo da costa, mas relatórios orais indicam que o sorgo e o milho Guineense eram cultivados nas planícies Accra, sendo fermentados para fazer dokonu (kenkey).  Mais tarde, o milho foi trazido pelos Europeus, da América onde o encontraram para o Ocidente Africano.

O milho é hoje tão importante em Accra, que são realizados rituais anuais para o celebrar pelas pessoas Ga-Adande da costa.  Segundo a minha própria pesquisa no meio dos Kwawu na floresta tropical, o milho cultivado no seu vale, nas encostas a Norte de Kwawu, era uma das plantas que o Nansin , espírito tutelar, proibiu.

Dokonu (kenkey) é uma comida com raízes profundas na cultura Akan, pelo que é provável que retroceda mais na história do que a introdução Europeia do milho, ainda que actualmente o milho seja o seu único ingrediente com amido.  Nos famosos contos Asante, conhecidos como Kwaku Anansi (Aranha nascida numa Quarta), uma das personagens populares é Dokonu Fa (Meia bola de Kenkey) 1

Ao passar muito tempo em aldeias remotas devido à minha investigação e sendo um Canadiano com hábitos Europeus, normalmente levava um rolo de papel higiénico comigo.  Quando o rolo se acabava, apresentavam-me o método rural Akan.  Após remoção dos grãos de milho da espiga, para fazer kenkey ou mingau, as espigas são deixadas a secar.  Dão um produto de limpeza muito melhor do que o papel higiénico.

Perguntei ao meu principal professor e informador cultural, o Kontihene de Obo, se o nome dado aos Europeus, Obruni, era derivado da palavra Akan para milho, aburu.  Pensei que os fios amarelos dentro da espiga faziam lembrar o cabelo dos Europeus.  Ele disse que não, que era justamente o oposto.  O nome Obruni foi dado aos Europeus, e mais tarde, quando veio o milho, foi chamado assim devido aos Europeus.

“Quando os Europeus chegaram, trouxeram novas ideias e costumes.  Enquanto os Akan celebrariam o dia de nascimento como um Sabbath pessoal, como faziam os espíritos tutelares (Deus Supremo ao Sábado, Terra-Mãe na Quinta, Oceano na Terça, cada rio ou grunoa no seu dia específico), os Europeus descansavam ao Domingo, iam ao seu pequeno templo especial e conduziam as suas actividades espirituais.  As pessoas que os viam começaram a suspeitar que as mulheres Europeias traçavam as pernas até Domingo para que todas as crianças nascessem ao Domingo.   O nome da alma (veja 40 Dias) era, por isso, para os homens Akwasi (Kwesi) e para as mulheres, Akosua.   Já que nos seus livros (as bíblias) se liam regras e regulamentos especiais, especialmente para debater um aspecto, as pessoas pensaram que eles estavam a citar novos provérbios. A população Akan citou provérbios para fazer valer um ponto de vista desde sempre.  A frase "ne o bu be fufero ni” que significa "eles que trouxeram novos provérbios" foi atribuída aos Europeus. Eventualmente, "o bu be fufuro ni” foi contraido para "Obruni", a palavra corrente para Europeus (mzungu em Swahili).”

"Mais tarde, quando o milho foi introduzido pelos Europeus, chamaram-lhe aburu, indicando que era a comida dos Obruni."

Dokonu (kenkey) é um delicioso prato feito a partir de milho.  A refeição de milho húmido é deixada a fermentar de três a sete dias, e então transformada em bolas e estufada.  Em Acra, Ga Kenkey é embrulhada nas folhas que cobrem as espigas, enquanto que Fante Kenkey, feito em Cape Coast, é embrulhada em folhas de bananeira.  O sabor corresponde a esses embrulhos diferentes durante a cozedura. As folhas de bananeira dão um sabor ligeiramente amargo, e, visto que o embrulho quase veda o ar, Fante kenkey é melhor para ser carregada em viagens de longa distância.  O kenkey de Acra tem um sabor mais doce, fazendo lembrar milho doce.  O milho branco é o preferido para fazer kenkey.

Na divisão de Economia Doméstica e pesquisa agricultural da Universidade de Reading, RU, o kenkey foi estudado, e provou-se que o processo de fermentação adicionava proteínas ao kenkey, numa forma mais digerível que a proteína da refeição de milho original utilizado para fazer kenkey.

Pouco após a independência do Gana, em 1957, a USAID importou grande quantidade de milho amarelo rico em proteínas.  Os doadores ficaram atónitos quando viram que o milho não era comido, mas dado a animais domésticos.  Quando lhes perguntaram, as pessoas disseram que a razão era que o prato de milho da USAID era "milho amarelo" e, como tal, servia apenas para animais.

Os funcionários da USAID tomaram-se por culturamente sensíveis, pelo que voltaram aos EUA e assinaram contractos com institutos de investigação e universidades para desenvolver milho branco rico em proteínas.  Isto levou vários anos, e em 1971 trouxeram o novo milho branco para o Gana.

Para seu choque e surpresa, as pessoas deram o novo milho aos animais.

"Porquê?" perguntaram os funcionários da USAID.  "Porque isto é milho amarelo, não serve para humanos" foi a resposta.  Os funcionários da organização ficaram vexados e intrigados.  Para eles o novo milho parecia branco, e sabiam que era nutritivo.  Finalmente um antropologista, especializado em línguas do Ocidente Africano, resolveu o mistério.

Para a população Akan, na linguagem Akan, a palavra "amarelo" não descreve uma cor, como seria entendimento dos Europeus.  Era uma indicação de que a espiga de milho continha proteínas demais. A proteína não fermenta quando se faz kenkey, apenas apodrece, não sendo comestível.  Precisavam de um milho com conteúdo rico em amido que fermentasse para fazer kenkey.  O processo de fermentação adiciona 20%  de proteína ingerível ao kenkey do que estava inicialmente no milho.

Os Europeus (Kwasi Bruni) têm muito a aprender sobre cultura Africana, especialmente que eles (nós) não somos os únicos possuídores da sabedoria, e devíamos aprender a não ter pressupostos etnocêntricos.

Algumas referências on-line:

Nota: 1. Os contos da aranha da floresta tropical são equivalentes as histórias da lebre na savana.  Estes contos tornaram-se nas histórias da Tia Nancy nas caraíbas e nas histórias do coelho Bre'r no sul dos EUA. Alguns analistas vêem o Kwaku Ananse, o malandro, como a manifestação mortal de Deus.

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 Lemas e provérbios: Seguir o caminho de menos resistência
faz todos os rios e alguns homens curvarem-se.

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Última actualização: 2013.08.14

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