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FATOR HUMANO E FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE

Revisão de Estudos sobre Fator Humano

Verão 2008, Volume 14, No. 1, Edição Especial

por Phil Bartle, Fundador, Coletivo Fortalecimento da Comunidade

Victoria, Colúmbia Britânica

traduzido por Marina Lourenço

Resumo

Fortalecimento da Comunidade, uma metodologia especial para fortalecer comunidades, começa com a idéia de que capacidade não pode ser construída (engenharia social), mas a comunidade pode ser estimulada para desenvolver-se a si própria. Comunidade é uma instituição e parte de uma cultura, idéias e ações aprendidas por humanos, e portanto diferente dos humanos que fazem o aprendizado. Trabalhar em campo revela que a força de uma comunidade baseia-se em dezesseis fatores de força. Esses estão descritos e demonstrados como pertencentes a seis dimensões de cultura, e portanto parte da proposta do Fator Humano que considera a pessoa como um todo.

Introdução

Como todo estudante de primeiro ano de sociologia ou antropologia aprende, ser humano é ter cultura (Henslin, 2004). O processo de toda uma vida de adquirir cultura, enculturação, é um processo de aprendizagem.(1) Cultura e suas instituições, isto é, a sociedade, não é composta de humanos, mas é composta de pensamentos e ações humanos; cultura (a coisa que de fato nos faz humanos) é carregada por humanos.

Comunidade é uma das mais antigas instituições da humanidade, e parece existir há tanto tempo quanto existem os humanos. Como todas as instituições sociais, a comunidade não pode ser vista, sentida ou ouvida, mas é uma construção social, como o modelo de um átomo. Uma comunidade não é um ser humano, não pode comer, julgar ou jogar golfe, e nós não devemos antropomorfiza-la se queremos ser precisos no seu entendimento, e no prognóstico de suas ações.(2)

Origens da Metodologia de Fortalecimento da Comunidade

A metodologia de fortalecimento da comunidade não se origina como uma busca erudita ou acadêmica. Origina-se no campo como um meio de solucionar um problema muito difícil, o problema social da pobreza. Isso significa que não há registros escritos de publicações acadêmicas nessa matéria. Quando Einstein escreveu seus ensaios no início do século XX, todos sabiam o significado dos elementos que ele descreveu e, m, c, mas coube a ele colocá-los juntos para criar um novo modo de olhar para o universo. Você pode ver esses elementos de fortalecimento da comunidade, e presumir que isso já foi dito antes; não foi.

O Fator Humano e o Fortalecimento da Comunidade

O enfoque do fator humano fez crescer o reconhecimento de uma necessidade de estudar a pessoa como um todo, incluindo os aspectos espirituais. A metodologia de fortalecimento da comunidade depende de uma análise da cultura humana em seis dimensões, uma das quais é a espiritual, incluindo crenças e visões de mundo. Essas dimensões: tecnológica, econômica, política, social, valores, e visão de mundo, e seus papéis no fortalecimento, serão explicados a seguir.

Fortalecimento e Desenvolvimento

Uma das razões por que alguns leitores pensam que isso são idéias velhas é a semelhança de sonoridade entre desenvolvimento da comunidade e fortalecimento da comunidade. Desenvolvimento significa tornar-se maior e mais complexo. Enquanto os dois são diferentes por definição, eles estão intrinsecamente interligados.

Fortalecimento da comunidade difere de desenvolvimento da comunidade por não ter uma origem e orientação coloniais e por não ser limitado a comunidades rurais, e por ser baseado num exame mais complexo de comunidades, incluindo as seis dimensões de cultura, e os dezesseis elementos da força da comunidade.

Desenvolvimento, incluindo desenvolvimento de uma comunidade, é um aumento em complexidade. Não é só um mero aumento em tamanho, assim como sua população, sua área de controle, ou sua riqueza. Desenvolvimento mais parece o crescimento de uma planta do que a construção de uma máquina. Pense em como cresce uma castanha. Ela não cresce até ser uma castanha do tamanho de uma casa; cresce num carvalho.

Conforme uma comunidade se torna mais forte, se torna mais tonificada. Aumenta sua habilidade para alcançar os objetivos que os membros desejam, e desenvolve capacidade aumentada. Nós podemos estimular uma comunidade a desenvolver sua própria capacidade; não podemos construir sua capacidade.

A metodologia de fortalecimento da comunidade é baseada em aplicações práticas de ciências sociais. Vai além do tradicional desenvolvimento da comunidade, com suas tendenciosidades rurais e ligações coloniais. Vê uma comunidade, como um organismo, cultural ou biológico, como algo que se torna mais forte quando se exercita ou se esforça.

Quando damos tudo a uma comunidade, e fazemos tudo por ela, ela se torna, metaforicamente falando, uma batata vegetando em frente à TV. Há hora e lugares apropriados para uma abordagem caridosa, como depois de desastre natural ou causado pelo homem, quando a caridade oferecida pode significar a diferença entre a vida e a morte. Se a caridade continua por muito tempo, entretanto, irá contribuir para a dependência que acaba por enfraquecer a comunidade e a torna mais pobre. Muito tempo significa mais que alguns meses, e não, como muitas agências humanitárias presumem, uma questão de anos. Assim como um organismo biológico se atrofia, os receptores de caridade perdem sua habilidade de ser auto-confiante.

Principais Elementos do Fortalecimento da Comunidade

É construído por cinco princípios importantes:

  1. Quando assistência puder ser oferecida, não deve ser assistência caridosa que promove dependência e enfraquecimento, mas assistência de parceria e treinamento que promove auto-confiança e aumento da capacidade.
  2. Organizações ou comunidade recebedoras não devem ser controladas ou forçadas a uma mudança, mas profissionais treinados como ativistas ou mobilizadores devem intervir com estimulação, informação e orientação.
  3. Organismos tornam-se mais fortes exercitando-se, esforçando-se e enfrentando adversidades. A metodologia do fortalecimento incorpora este princípio para as organizações sociais.
  4. Ajuda na participação, especialmente na tomada de decisões, pelos recipientes, é essencial para o seu crescimento em capacidade e força.
  5. Temos que direcionar os participantes desde o início para o total controle, exercitando a inteira tomada de decisões, e aceitando a inteira responsabilidade pelas ações que irão conduzir ao aumento da sua força.

Veja Bartle (2004) para mais detalhes destes princípios

Este é o conjunto central de princípios da metodologia de fortalecimento. Cada uma das seis dimensões culturais, e cada um dos dezesseis elementos de força, são invocados no processo de ajuda de uma comunidade a fortalecer-se a si mesma, usando esses princípios centrais.

Elementos de força

Quarenta anos de trabalho na estimulação de comunidades para torná-las mais fortes tem revelado alguns dezesseis elementos de força.(3) Mais tarde investigações mostraram, como nos elementos de Weber do que torna forte as burocracias,(4) que os mesmos dezesseis elementos aplicam-se à força das famílias e das organizações formais.

Os Dezesseis Elementos da Força

Altruísmo:

A proporção de, e o nível com que, os indivíduos estão prontos a sacrificar benefícios próprios para beneficiar a comunidade como um todo (refletido nos nívies de generosidade, humildade individual, orgulho comum, suporte mútuo, lealdade, preocupação, camaradagem, irmandade). Conforme a comunidade desenvolve mais altruísmo, desenvolve mais capacidade. (Onde indivíduos, famílias ou facções podem ser gananciosos e egoístas às custas da comunidade, isso enfraquece a comunidade).

Valores Comuns:

O nível com que os membros de uma comunidade compartilham valores, especialmente a ideia de que eles pertencem a uma entidade comum que sobrepõe o interesse dos membros antes disso. Quanto mais os membros da comunidade compartilham - ou ao menos entendem e toleram - os valores e atitudes dos outros, mais forte sua comunidade será. (Racismo, preconceito e intolerância enfraquecem uma comunidade ou organização).

Serviços Comuns:

Instalações e serviços em assentamentos humanos (como estradas, mercados, água potável, acesso a educação, serviços de saúde), sua manutenção (manutenção confiável e reparo), sustentabilidade, e o nível com que os membros da comunidade têm acesso a eles. Quanto mais os membros têm acesso às instalações comuns necessárias, mais o seu fortalecimento. (Na medição da capacidade de organizações, isso inclui o equipamento de escritório, ferramentas, suprimentos, acesso a lavabo e outras in

Comunicações:

Dentro de uma comunidade, e entre ela mesma e o exterior, comunicação inclui estradas, métodos eletrônicos (por exemplo, telefone, rádio, TV, internet), mídia impressa (jornais, revistas, livros), redes, idiomas mutualmente entendidos, alfabetização e a disposição e habilidade para comunicar (o que implica tato, diplomacia, disposição para ouvir bem como para falar) em geral. Conforme a comunidade melhora a comunição, torna-se mais forte. (Para uma organização, isso é o equipamento de comunicação, métodos e práticas disponíveis para a equipe). Comunicação pobre significa organização ou comunidade fracas.

Confiança:

Enquanto expressa em indivíduos, quanta confiança é compartilhada pela comunidade como um todo? por exemplo o entendimento de que a comunidade pode alcançar qualquer coisa que desejar. Atitudes positivas, força de vontade, motivação, entusiasmo, otimismo, auto-confiança ao invés de atitudes de dependência, força de vontade para lutar por seus direitos, anulação da apatia e do fatalismo, uma visão do que é possível. Aumento da força inclui aumento da confiança.

Contexto (Político e Administrativo):

Uma comunidade será mais forte, mais capaz de tornar-se mais forte e sustentare mais sua força, quanto mais existir num ambiente que apoia seu fortalecimento. Esse ambiente inclui elementos (1) políticos (incluindo vaores e atitudes de líderes nacionais, leis e legislação) e (2) administrativos (atitudes de servidores públicos e técnicos, assim como as regulações e procedimentos governamentais).

Informação:

Mais do que apenas ter ou receber informação não processada, a força de uma comunidade depende da habilidade de processar e analisar a informação, o nível de percepção, conhecimento e sabedoria encontrado entre os indivíduos-chave e na grupo como um todo. Quando a informação é mais efetiva e mais útil, não apenas maior em quantidade, a comunidade terá mais força. (Note que isso é relacionado, mas difere do elemento comunicação listado acima).

Intervenção:

O que é a extensão e a efetividade da animação (mobilização, treinamento em gerenciamento, aumento da percepção, estimulação) dirigidas ao fortalecimento da comunidade? Os recursos externos e internos da caridade aumento o nível de dependência e enfraquecem a comunidade, ou eles desafiam a comunidade a agir e daí em diante tornar-se mais forte? A intervenção é sustentável ou depende de decisões de doadores externos que têm objetivos e agendas diferentes da própria comunidade. Quando uma comunidade tem mais recursos de estimução para desenvolver-se, tem mais força.

Liderança:

Líderes têm poder, influência, e habilidade para mover a comunidade. Quanto mais efetiva é uma liderança, mais forte é uma comunidade. Embora isso não seja lugar para discussão ideológica entre democracia ou liderança participativa, em contraste com totalitarismo, estilos autoritários e ditatoriais, a mais efetiva e sustentável liderança (para fortalecimento da comunidade, não apenas fortalecimento dos líderes) é aquela que opera seguindo decisões e desejos da comunidade como um todo, para ter um papel possibilitador e facilitador. Líderes devem ter habilidades, vontade e algum carisma. Quanto mais a liderança é efetiva, mais capacidade tem a comunidade ou organização (Ausência de boa liderança as enfraquece).

Rede:

Não é apenas "o que você sabe" mas também "quem você conhece" que podem ser um recurso de força. (Como frequentemente se brinca, não é apenas o "Q.I", mas também "quem-indica" que consegue um emprego). Qual é a extensão para cada membro da comunidade, especialmente líderes, conhecer pessoas (e suas agências ou organizações) que possam prover recursos úteis que irão fortalecer a comunidade como um todo? As ligações úteis, potenciais ou realizadas, que existem antes da comunidade e com outros fora dela. Quanto mais efetiva é a rede, mais forte a comunidade ou organização. (Isolamento produz fraqueza).

Organização:

O nível com que os diferentes membros da comunidade veem a si mesmo como cada um tendo um papel no suporte do todo (em contraste com sendo uma mera coleção de indivíduos separados), incluindo (num sentido sociológico) integridade organizacional, estrutura, procedimentos, processos de tomada de decisão, efetividade, divisão do trabalho e complementariedade de papéis e funções. Quanto mais organizada, ou mais efetivamente organizada, é a comunidade ou organização, mais capacidade de força têm.

Poder Político:

O nível com que cada comunidade pode participar na tomada de decisões nacional ou distrital. Apenas como indivíduos têm um poder variável dentro da comunidade, então comunidades têm um poder variável e influência dentro do distrito e da nação. Quanto mais poder político e influência uma comunidade ou uma organização podem exercitar, mais alto o nível de capacidade que elas terão.

Habilidades:

A habilidade, manifestada em indivíduos, que irá contribuir para a organização da comunidade e a habilidade desta de ter feitas as coisas que quer, habilidades técnicas, habilidades de gerenciamento, habilidades de mobilização. Quanto mais habilidades (grupais ou individuais) a comunidade pode obter e utilizar, mais fortalecidas essa comunidade ou organização serão.

Confiança:

O nível com que cada indivíduo da comunidade confia no outro, especialmente seus líderes e os servidores da comunidade, o que por sua vez é a reflexão do nível de integridade (honestidade, confiabilidade, franqueza, transparência, fidelidade) dentro da comunidade. Mais confiança e confiabilidade dentro da comunidade reflete o crescimento da sua capacidade. (Desonestidade, corrupção, apropriação indevida e desvio dos recursos da comunidade, tudo isso contribui para a fraqueza comunitária ou organizacional).

Unidade:

Uma compartilhada noção de pertencimento para conhecer uma entidade (por exemplo, num grupo que compõe uma comunidade), embora cada comunidade tenha divisões e cismas (religião, classe, status, renda, idade, gênero, etnia, clã), o nível com que cada membro da comunidade está disposto a tolerar as diferenças e variações entre cada um e estão dispostos a cooperar e trabalhar juntos, uma noção de um propósito ou uma visão comuns, valores compartilhados. Quando uma comunidadeou organização é mais unida, é mais forte. (Unidade não significa que todos são o mesmo, mas que cada um tolera as diferenças do outro, e trabalha para um bem comum).

Riqueza:

O nível com que cada comunidade como um todo (em contraste com os indivíduos dentro dela) tem controle sobre atuais e potenciais recursos, e a produção e distribuição de escassos e úteis bens e serviços, monatários e não monetários (incluindo trabalho doado, terra, equipamentos, recursos, conhecimento, habilidades). Quanto mais riqueza tem uma comunidade, mais forte é. (Quando indivíduos gananciosos, famílias, ou facções acumulam riqueza às custas da comunidade ou organização como um todo, isso enfraquece a comunidade ou organização).

As Seis Dimensões da Cultura na Comunidade

Acima mencionamos que a metodologia de fortalecimento da comunidade invoca as seis dimensões de cultura, e aplica-se os cinco princípios de fortalecimento a cada uma delas. Aqui as dimensões são descritas em mais detalhes.

A Dimensão Tecnológica da Comunidade:

A dimensão tecnológica da cultura é o seu capital, suas ferramentas e habilidades, e modos de lidar com o ambiente físico. É a interface entre a humanidade e a natureza.

Lembre-se, não são as ferramentas físicas por si próprias que formam a dimensão tecnológica da cultura, mas é o aprendizado de idéias e o comportamento que permite aos humanos inventar, usar, e ensinar outros sobre essas ferramentas. Tecnologia é muito mais uma dimensão cultural do que crenças e padrões de intereção; é simbólico. Tecnologia é cultural.

Essa dimensão cultural é o que o economista chama de "capital real" (em contraste como o capital financeiro). É algo valioso que não é produzido para consumo direto, mas para ser utilizado no aumento da produção (portanto, mais riqueza) no futuro; investimento.

Em desenvolvimento de capacidade, é um dos dezesseis elementos de força que muda (aumenta) conforme uma organização ou comunidade torna-se mais forte. Na guerra contra a pobreza, tecnologia proporciona um importante conjunto de armas.

Para um indivíduo ou uma família, tecnologia inclui sua casa, mobília e instalações domésticas, incluindo os eletrodmésticos e utensílios da cozinha, portas, janelas, camas e luminárias. Linguagem, que é uma importante característica do ser humano, pertence à dimensão tecnológica (é uma ferramenta). Isso vai junto com as ferramentas de comunicação como rádio, telefones, TV, livros e máquinas de escrever (agora computadores).

Em uma organização, tecnologia inclui mesas, computadores, papel, cadeiras, espaço do escritório, telefones, lavabos e refeitórios. Algumas organizações têm tecnologia específica: bolas e uniformes para clubes de futebol, quadros negros, mesas e giz para escolas, altares e bancos para igrejas, armas e cacetetes para as forças policiais, transmissores e microfones para estações de rádio.

Em uma comunidade, tecnologia comum inclui suas instalações como lavatórios públicos e pontos de água, estradas, mercados, clínicas, escolas, sinais de trânsito, parques, centros comunitários, livrarias, campos de esportes. Tecnologia comunitária de propriedade privada inclui lojas, fábricas, casas e restaurantes.

Quando um facilitador encoraja uma comunidade a construir um lavatório ou um poço, nova tecnologia é introduzida. Um poço (ou um lavatório) é tanto uma ferramenta (e um investimento) como um martelo ou um computador.

Em geral (mas há exceções) tecnologia é talvez a mais fácil das seis dimensões para introduzir mudanças culturais e sociais. É mais fácil introduzir um rádio transmissor que introduzir uma crença religiosa, um novo conjunto de valores ou uma nova forma de família. Paradoxalmente, entretanto, a introdução de uma nova tecnologia (pela invenção ou pelo empréstimo) irá direcionar para mudanças em todas as outras cinco dimensões da cultura.

Lembre-se que há sempre exceções; na sociedade Amish, por exemplo, há uma decisão comum consciente para resistir à introdução de nova tecnologia. Eles confiam na preservação de tecnologia mais antiga (sem tratores, automóveis ou rádios) como carroças puxadas a cavalo e arados, para reforçar seu senso de identidade cultural.

Essas mudanças não são facilmente prognosticadas, e nem seguem sempre a direção desejada. Depois de acontecerem, podem parecer que eram lógicas, mesmo quando não podem ser previstas anteriormente.

Pela história da humanidade, a tecnologia tem mudado geralmente para se tornar mais complexa, mais sofisticada, e com um melhor controle da energia. Uma forma não substitui a outra imediatamente embora os chicotes de cavalo tenham se tornado fora de moda e o automóvel tenham substituído o cavalo depois de um século de mudança.

Usualmente as mudanças são cumulativas, com as velhas ferramentas e tecnologias morrendo à medida que se tornam menos úteis, menos eficientes e mais caras. Na ampla volta da história, coleta e caça deram lugar à agricultura (exceto em alguns poucos grupos residuais). Da mesma forma, a agricultura tem dado lugar à indústria. Pessoas ainda praticando tecnologias mais antigas e menos eficientes frequentemente encontram-se marginalizadas e encarando a pobreza. Onde a tecnologia é altamente avançada (como em tecnologia da informação, computadores, a internet) é praticada por uma pequena proporção da população mundial.

A tecnologia introduzida pelos mobilizadores deve ser relativa à medicina (clínica e medicamentos) e saúde (água limpa, higiene), prédios escolares ou mercados cobertos em áreas rurais. Aí os residentes não são desconhecedores deles, mas simplesmente não os tem, antes da mobilização para obte-los. O facilitador deve estar preparado para entender os efeitos em outras dimensões da cultura pela introdução de uma mudança na dimensão tecnológica.

A Dimensão Econômica de Comuidade:

A dimensão econômica da comunidade são os vários modos e meios de produção e alocação do bens e serviços escassos e úteis (riqueza), seja isso através de um presente, obrigações, barganha, mercado, ou alocações estatais.

Não são os itens físicos como o dinheiro que compõem a dimensão econômica da cultura, mas as ideias e os comportamentos que dão valor ao dinheiro (e outros itens) pelos humanos que criaram o sistema econômicos que eles usam. Riqueza não é meramente dinheiro, como pobreza não é meramente a absência de dinheiro.

Riqueza está ao longo dos dezesseis elementos da força da comunidade ou capacidade organizacional. Quando a organização ou comunidade tem mais riqueza (que pode controlar como uma organização ou comunidade) então tem mais poder e mais habilidade para alcançar as coisas que almeja.

Durante o amplo curso da história humana, a tendência geral na mudança econômica tem sido de simples a mais complexa. Um sistema não substittui imediatamente o outro, mas novos sistemas são adicionados, e os menos úteis são aos poucos postos de lado.

Em simples grupos pequenos, riqueza (tudo que era escasso e útil) foi distribuído por simples obrigações familiares. Quando alguém voltou pra casa com alguma comida ou roupas, isso foi alocado para os outros membros da família sem expectativas de retorno imediato.

Confome a sociedade torna-se mais complexa, e diferentes grupos entram em contato uns com os outros, simples trocas através de várias formas de barganha são obtidas. A distribuição dentro de cada grupo familiar permanece mais ou menos a mesma. Conforme a barganha tornou-se mais complexa e extensiva, novas instituições foram adicionadas para facilitar a contabilidade: contas monetárias, bancos, crédito, cartões de crédito, cartões de débito. Isso não remove imediatamente as formas anteriores, mas concessão de presentes e distribuição familiar eventualmente tornaram-se relativamente menores na ampla variação de sistemas distributivos, e barganha tornou-se menos importante.

Lembre-se que moeda (dinheiro, notas) por si própria não tem valor intrínseco. Tem valor apenas porque a sociedade - a comunidade; a cultura - atribui alguma valor a ela. Uma nota de cem euros, por exemplo, podem ser usadas para começar uma forgueira ou para enrolar tabaco num cigarro - mas sua face de valor é muito mais valiosa que esses usos.

Em qualquer comunidade, encontraremos várias formas de distribuição de riqueza. É importante para o mobilizador da comunidade aprender o que eles são e quais as coisas que podem ser dadas, o que pode ser trocado, comprado ou vendido. Em várias sociedades alguns tipos de riqueza podem não ser alocados pela compra, como favores sexuais, esposos, hospitalidade, crianças, entretenimento. Isso varia. Aprender como eles são distribuídos e sobre quais condições e entre quem (porque eles diferem) é parte da pesquisa que o mobilizador precisa fazer.

Quando uma comunidade decide alocar água com base numa taxa constante para todos os residentes, ou alocar com base no pagamento para cada recipiente de água quando é coletado, então uma escolha está sendo feita entre sistemas muito diferentes de distribuição econômica.

O animador deve encorajar a comunidade a escolher o que ela quer para ser mais consistente com valores e atitudes predominantes. (Um bom mobilizador não tentrá impor sua noção do que seria o melhor sistema de distribuição; os membros da comunidade, todos eles, devem entrar num consenso a respeito disso).

A Dimensão Política da Comunidade:

A dimensão política da comunidade são os seus vários modos e meios de alocar poder, influenciar e tomar decisões. Não é o mesmo que ideologia, o que pertence à dimensão dos valores. Inclui, mas está limitada a, tipos de governo e sistemas de gerenciamento. Também inclui como as pessoas em pequenos bandos ou grupos informais tomam decisões quando eles não têm um líder reconhecido.

Poder político está entre os dezesseis elementos do poder da comunidade ou da capacidade organizacional. Quanto mais poder e influência política tiver, mais pode fazer as coisas que deseja.

Um animador deve ser capaz de identificar os diferentes tipos de líderes numa comunidade. Alguns devem ter autoridade burocrática ou tradicional; outros devem ter qualidades pessoais carismáticas. Quando trabalhando com uma comunidade, um animador deve ser hábil a ajudar a desenvolver o poder existente e o sistema de tomada de decisões para promover a unidade da comunidade e o grupo tomador de decisões que beneficie toda a comunidade, não apenas redes de interesse.

Na ampla volta da História humana, liderança (poder e influência) foi inicialmente difundida, temporária e minimamente. Num pequeno bando de colheitadores e caçadores, um líder deve ser alguém que sugere e organiza uma caça. Em pequenos bandos, não haviam chefes, anciãos ou reis, e esses grupos são nomeados pelos antropologistas como "acéfalos" (sem cabeça).

Conforme a História progride, sistemas políticos tornam-se mais complexos, e poder e influência crescem e afetam um número maior de pessoas. Níveis de sofisticação política, e hierarquia, variados de acéfalos, bandos, tribos, para reinos e Estados-nação.

No bando mais simples, há uma diferença muito pequena entre a quantidade de poder e influência do líder e do membro mais inferior do bando. Compare isso com a diferença na quantidade de poder e influência do Presidente dos EUA e algum zelador limpando lavados em um hotal na perifieria de Washington.

Comunidades, incluindo aquelas em que você trabalha, todas tem algum sistema político, e alguma distância entre o maior e o menor nível de poder entre indivíduos e grupos. É a primeira tarefa do mobilizador entender como isso funciona, como poder e influêcnia são distribuídos (não sempre da mesma forma) e que mudanças estão ocorrendo.

O mobilizador terá alguma influência no gerenciamento desse poder conforme ele(a) estimula a formação de um comitê de desenvolvimento. E ele(a) será responsável por encorajar um aumento na complexidade política se esse for o primeiro comitê dessa espécie nessa comunidade.

A Dimensão Institucional de Comunidade:

A dimensão social ou institucional de comunidade é composta pelos modos como as pessoas agem, interagem entre si, reagem, e esperam umas das outras que ajam ou interajam. Isso inclui instituições como casamento ou amizade, papéis como mãe ou policial, status ou classe, e outros padrões de comportamento humano.

A dimensão institucional de sociedade é o que muitos não-sociólogos pensam quando ouvem sobre "sociologia". É a única das seis dimensões de organização social (cultura), de qualquer forma.

A dimensão tem a ver com como as pessoas reagem em relação umas às outras, suas expectativas, suas suposições, seus julgamentos, suas previsões, suas respostas e suas reações. Visa os padrões e os relacionamentos algumas vezes identificadas como papéis e status, e a formação de grupos e instituições que derivam desses padrões.

Uma "sogra", por exemplo, é tanto um papel (com um status) como uma instituição. Numa comunidade, a organização social dessa comunidade é a soma total de todas essas interrelações e padrões.

O nível de organização (ou complexidade organizacional), o nível de divisão do trabalho, a extensão da divisão de papéis e funções, é outro dos dezesseis elementos da força da comunidade ou capacidade organizacional. Quanto mais organizada, e mais efetivamente organizada, for (e o mobilizador pode ajudar a fazê-lo), mais capacidade terá para alcançar seus objetivos comunais e organizacionais.

Como com outras dimensões, além da história, o movimento geral tem sido do simples para o complexo. Em simples adiantadas sociedades, a família era a comunidade, e era a sociedade. A família definia todos os papéis e status. Conforme as sociedades tornaram-se mais complexas, então novas relações não-familiares desevolveram-se e foram reconhecidas. Mais tarde a família por si só declinou em importância entre todos os outros tipos de relacionamentos.

Cada vez que um novo papel é criado, com seus deveres, responsabilidades, direitos, e padrões de comportamento esperados, então a sociedade torna-se mais complexa. Se ele(a) encoraja a formação de um novo comitê de desenvolvimento, com suas posições e membros oficiais, então a comunidade tornou-se muito mais complexa.

Uma pequena comunidade rural sem clínicas ou escolas é muito provavelmente composta de residentes que são relacionados entre si através da descendência e/ou casamento. Se você estimular essa comunidade a construir uma escola ou uma clínica, com professores pagos e trabalhadores da saúde (geralmente forasteiros), então está estimulando a complexidade social dessa comunidade.

Nesse sentido, talvez a dimensão social seja similar à dimensão tecnológica em ser menos difícil (que as outras dimensões, especialmente as duas últimas) para introduzir uma mudança social. Assim como com todas as seis dimensões, uma mudança em uma como a dimensão social terá efeitos em cada outra das cinco dimensões.

Para o animador ser bem-sucedido, ele ou ela deve saber quais são as instituições locais, quais diferentes papéis são desempenhados por homens e mulheres, e quais são as principais formas de interação social.

A Dimensão de Valores Estéticos de Comunidade:

A dimensão de valores estéticos de comunidadeé a estrutura de idéias, às vezes paradoxas, inconsistentes, ou contraditórias, que as pessoas têm sobre bem ou mal, sobre bonito e feio, e sobre certo e errado, que são as justificações que as pessoas citam para explicar as suas ações.

Os três eixos junto dos quais as pessoas fazem julgamentos são todos dependentes do que elas aprenderam da infância. Isso inclui o julgamento entre certo e errado, entre bom e mau, entre bonito e feio, tudo baseado em valores sociais e comunitários.

Eles não são adquiridos dos nossos genes, mas da nossa socialização. Isso implica que eles podem ser reaprendidos; que nós podemos mudar nossos julgamentos. Valores, entretanto, são incrivelmente difíceis de mudar numa comunidade, especialmente se os residentes percebem que uma tentativa está sendo feita para mudá-los. Eles mudam, conforme os padrões da comunidade evoluem, mas essa mudança não pode ser apressada ou guiada por uma influência exterior ou uma manipulação consciente.

Os padrões compartilhados da comunidade são importantes na identidade pessoal e cultural; cada um é muito mais uma questão dos valores em que acredita. O nível com que cada membro de comunidade ou organização compartilha valores, e/ou respeita os valores uns dos outros, é um importante componente entre os dezesseis elementos de força e capacidade.

Valores tendem a mudar conforme a comunidade cresce e torna-se mais complexa, mais heterogênea, mais conectada com o mundo. Mudanças nos valores tendem a resultar mudanças formais em tecnologia, mudanças em organização social, e não pela pregação ou leitura para mudanças diretas.

Parece que não há uma direção completa de mudan;ca na História humana, em que julgamentos tornam-se mais liberais, mais tolerantes, mais católicos, mais ecléticos, - ou menos - conforme as sociedades tornam-se mais complexas e sofisticadas. Comunidades em qualquer um dos finais do espectro de complexidade social mostra padrões de vários níveis de rigidez. Apesar dessa variação, dentro de toda comunidade há geralmente uma reduzida variação de valores entre os residentes. Comunidades urbanas e heterogêneas tendem a ter uma mais ampla variação nos valores e estéticas.

Não é fácil prever padrões de valores em cada comjunidade antes de viver nela e descobrir como operar dentro da comunidade. Por causa da sua importância, entretanto, é necessário que o mobilizador aprenda quanto mais possa sobre os padrões da comunidade, e não assuma que eles serão os mesmos que os seus próprios.

Enquanto a introdução de novas instalações e serviços numa comunidade pode eventualmente liderar mudanças nos padrões da comunidade, qualquer coisa que o mobilizador proponha deve ser planejado para existir dentro dos conjuntos predominantes dos valores da comunidade. Sempre que um animador introduza novas formas de fazer coisas em uma comunidade, valores predominantes, contudo contraditórios e variados, devem ser considerados.

A Dimensão Crente-Conceitual de Comunidade:

A dimensão crente-cultural de comunidade é outra estrutura de idéias, às vezes mesmo contraditórias, que as pessoas têm a respeito da natureza do universo, o mundo ao redor delas, seu papel nele, causa e efeito, e a natureza do tempo, matéria, e comportamento.

A dimensão é às vezes pensada como sendo a religião das pessoas. É uma categoria mais ampla, e também inclui crenças ateístas, por exemplo, que o homem criou Deus à sua imagem. Inclui crenças compartilhadas de como o universo se formou, como funciona, e o que é realidade. É religião - e mais.

Quando um mobilizador deixa cair um lápis ao chão, ele(a) ele demonstra sua crença na gravidade. Quando ele(a) diz que o sol se levanta pela manhã (não o faz; é a Terra que gira), expressa uma já ultrapassada visão de mundo.

Se o mobilizador é visto como alguém que está atacando as crenças do povo, ele(a) verá seu trabalho impossibilitado, oposição aos seus objetivos, e irá falhar como mobilizador. Se o mobilizador quer se opor às crenças locais, deve fazer de modo a não tentar mudá-las.

Na ampla volta da existência humana, a tendência geral tem sido pela diminuição no número de divindades, e uma redução de diferenças no espaço sacro-profanas para o espaço secular. Do politeísmo local com vários deuses, humanos movidos para um politeísmo com alguns poucos deuses, para humanos movidos para o monoteísmo (um deus) e daí para um aumento na proporção de pessoas que não acreditam em nenhum deus.

Na experiência da humanidade, parece que esses grupos com deuses locais tradicionais tendem a ser mais tolerantes com outros deuses do que as tão conhecidas religiões "universais" em que cada um sozinho diz ter a verdadeira resposta. Enormes guerras foram travadas entre das religiões (uma ironia que a maioria dessas religiões chame pela paz e tolerância), e isso pode ser um aviso para o mobilizador sobre a extensão com que as pessoas defendem fervorosamente sua crenças.

O animador deve aprender, estudar e estar atento sobre quais são as crenças predominantes na comunidade. Para ser um efetivo catalisador da mudança social, o animador deve fazer sugestões e promover ações que não ofendam as crenças predominantes, e que sejam consistentes com, ou ao menos apropriadas às, crenças existentes e conceitos de como o universo funciona.

O Fator Humano e a Força da Comunidade

Entre todas as várias vantagens de tomar a visão do Fator Humano para entender a sociedade e a cultura, a maior é que essa visão enxerga a pessoa como um todo, incluindo a característica espiritual bem como a tecnológica, econômica, política, social e avaliativa.

Isso, por sua vez, apoia o uso das seis dimensões culturais na pesquisa e análise da sociedade e cultura. As seis dimensões incluem: dimensões tecnológica, econômica, política, institucional, e ideológica e de visão de mundo. As seis dimensões são úteis para organização etnográfica do material, ensino sobre a natureza da cultura, e desenvolvimento de estratégias de pesquisa. (5)

O desenvolvimento da comunidade e o fortalecimento da comunidade, que pertencem ao campo da sociologia aplicada, não podem ser bem-sucedidos sem o Fator Humano. Uma comunidade é uma instituição social, parte de uma cultura, e consiste nas ideias e comportamento dos seres humanos. Para que desenvolva-se e torne-se mais forte, há que fazê-lo num contexto de seres humanos que constituem a comunidade. Assim como o Fator Humano enxerga a pessoa como um todo, o fortalecimento da comunidade deve olhar a comunidade como um todo.

Notas Finais

1. Enculturação e socialização são descritas no web site do Fortalecimento da Comunidade.

Veja: ../../cmp/modules/edu-int.htm

2. Isso é chamado a Perspectiva Sociológica.

Veja: ../../cmp/modules/per-int.htm.

3. Os dezesseis elementos de força são descritos no web site do Fortalecimento da Comunidade.

Veja: ../../cmp/modules/mea-int.htm.

4. As maiores contribuições de Weber, incluindo em burocracia, estão listadas no web site do Fortalecimento da Comunidade.

Veja: ../../cmp/modules/cla-webr.htm.

5. As seis dimensões são descritas no web site do Fortalecimento da Comunidade.

Veja: ../../cmp/modules/dim-int.htm

Referências Citadas:

Bartle, Phil, 2005, The Sociology of Communities, an introduction. Camosun College, Victoria,

Henslin, James M., Dan Glenday, Ann Duffy e Norene Pupo. 2004. Sociology: A Down–to–Earth Approach, Third Canadian Edition. Toronto: Pearson

Weber, Max, 1946, From Max Weber; Essays in Sociology. (H Gerth & C. Wright Mills, trans and ed), New York, Oxford

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Última actualização: 29.11.2011

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