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MANUAL PARA GERAÇÃO DE RIQUEZA

por Phil Bartle, PhD

traduzido por Marina Lourenço


ISBN: 92-1-1314 03-8 ─ UN: HS/544/98

Ele não é pobre porque não tenha muito
Mas porque anseia muito.

Thomas Fuller

Prefácio

Este é o segundo de três manuais para o trabalhador do campo.A maioria dos trabalhadores em desenvolvimento de comunidades preocupam-se com a geração ou criação de riqueza pública ou comum (acesso a facilidades em assentamentos humanos ou serviços como escolas, clínicas, estradas, mercados, suprimentos de água, saneamento). O primeiro manual (Manual para Mobilizadores) concentra-se nisso. Este observa mais a riqueza privada (individual ou familiar), como a redução da pobreza pode incluir micro ou pequenas empresas, e como um mobilizador de comunidade pode contribuir para esse desenvolvimento.

Isso é o resultado de seis anos de treinamento em mobilização e gerenciamento de comunidade no CMP (sigla em inglês para Programa Gerenciamento de Comunidade) de Uganda, executado pelo UN-HABITAT (Habitat) e implementado pela Diretoria de Desenvolvimento Comunitário do Governo de Uganda. Muitas lições foram aprendidas ao longo dos anos, algumas pelo sucesso, outras pelo fracasso. Através disso tudo vimos a força potencial e a incrível complacência das comunidades.

O que pudemos perceber é que todas as comunidades, não importa quão pobres, têm recursos (muitos deles que ainda precisam ser identificados) que podem ser explorados, e então elas, e todo o país, podem desenvolver-se. Para explorar esse enorme recurso nacional, mobilização e treinamento gerencial são necessários. Este manual mostra como esses recursos potenciais podem ser liberados para o desenvolvimento sustentável. é direcionado para Governos, ONG's, profissionais e mobilizadores voluntários de todo lugar. Não é limitado a Uganda. Nós torcemos para que lhe seja útil.

Phil Bartle, Conselheiro Técnico Chefe
Laban Mbulamuko, Coordenador Nacional
Programa Gerenciamento de Comunidade
1992-1998

Este é o segundo de três manuais para o mobilizador de comunidade. É um complemento para o " Manual para Mobilizadores" e "Manual para Monitoramento e Avaliação." Enquanto o primeiro deles tem o objetivo de combater a pobreza através da criação de riqueza de natureza comum (por exemplo, com acesso público e/ou de domínio público), este manual tem o objetivo de criação de riqueza (para combater a pobreza) para propriedade privada (indivíduos e suas famílias) através do micro-empreendimento.

Este é um livro "como fazer" para trabalhadores no desenvolvimento de comunidades que queiram ajudar a erradicar a pobreza. Há vários métodos diferentes de promover a geração de riqueza; esta é uma.

Começa com uma análise da pobreza e suas causas, liderando ações para remove-la. Então segue com um olhar usando uma combinação de crédito e treinamento para promover o empreendedorismo. Então algumas dicas na organização de grupos. A próxima parte descreve as habilidades que você deverá transferir para aqueles que queiram tornar-se empreendedores. Finalmente, os requisitos para dirigir uma micro-empresa viável.

Este manual objetiva minimizar teoria, história e narrativa; concentra-se no que você, como um mobilizador comunitário, deve saber e que habilidades precisa, para promover a redução da pobreza.

1. Pobreza e Riqueza:

Nosso objetivo de longo prazo é a erradicação da pobreza. Nós não a eliminaremos através do alívio temporário do desconforto e da dor causados pela pobreza. Isso são sintomas. Temos que identificar as causas da pobreza, e opor-se a essas forças negativas. Temos que inventar métodos para criar riqueza genuína como um processo sustentável de crescimento.

Todo bom líder militar lhe dirá isso, para vencer o inimigo, você deve saber tudo sobre esse inimigo. Se queremos vencer a pobreza, então temos que saber muito sobre ela (não apenas seus sintomas) e sobre riqueza.

Este manual não diz tudo sobre a pobreza; ele introduz a você os principais elementos, e aponta a você a direção para ensinar mais a você mesmo. Tome essas idéias, escreva-as no seu jornal, pense a respeito delas, expanda, as desafie, discuta com seus amigos e colegas em workshops, seminários, e durante suas horas de lazer. Use este manual como um iniciador.

1.1. Uma Perspectiva Alternativa:

No entendimento da natureza e das causas da pobreza e riqueza, temos que primeiro descartar algumas hipóteses comuns. Pobreza não é meramente a ausência de dinheiro. Riqueza não é meramente a posse de dinheiro. Pobreza e riqueza vão muito além da presença ou ausência de dinheiro.

Dinheiro pode ser usado às vezes como uma medida de riqueza, um meio de armazenar, e um conjunto de símbolos útil para a troca de riquezas. Mas dinheiro não é riqueza, e a natureza da pobreza é muito mais interessante e desafiante que apenas a ausência de dinheiro. Partindo dessa radical e revolucionária ideia, de que a riqueza é mais que dinheiro, e de que pobreza é mais que a escassez de dinheiro, então você aprende como ser bem-sucedido no ataque do inimigo comum, a pobreza.

Isto não é subestimar o dinheiro. Em nossa luta contra a pobreza, dinheiro pode ser um recurso muito útil. Grande parte do "como-fazer"deste manual mostra como o dinheiro pode ser usado para lutar contra a pobreza e gerar riqueza. Lembre-se, o dinheiro por si só não eliminará a pobreza.

Você, como um trabalhador comunitário, precisa de três coisas para contribuir com a remoção da pobreza: (1) um entendimento de conceitos e princípios (2) algumas habilidades em treinamento, facilitação e organização, e (3) características pessoais, incluindo integridade, motivação e criatividade. Sem serem muito teóricos, portanto, os dois primeiros capítulos deste manual apontam a você os princípios e conceitos que você deve entender.

1.2. Riqueza:

Se dinheiro não é a mesma coisa que riqueza, e somente pela adição de dinheiro não se eliminará a pobreza, então o que é riqueza e como ela ajudará a combater a pobreza?

Se olharmos para a definição econômica de riqueza, chegaremos mais perto de enxergar como usá-la na luta contra a pobreza. Economistas falam sobre "bens e serviços" com valor, mas mesmo os "bens" têm valor somente na extensão de que produzem um serviço. O conceito-chave, aqui, é valor. Algo tem valor relativo de acordo com dois atributos, (1) se é relativamente útil (tem utilidade) and (2) se é relativamente escasso.

Qualquer um de nós que esteja sem dinheiro sente que sabe o que é a pobreza. Mas a experiência de pobreza individual, que é aliviada com o ganho de algum dinheiro, é muito diferente do problema social de pobreza, que é um problema de toda a economia. O problema social da pobreza é a escassez de riqueza, não escassez de dinheiro. Para pessoas com baixa renda, pobreza é também o modo como a riqueza é distribuída pela sociedade. Se você adicionar dinheiro ao sistema, você só cria inflação, e isso não livra a sociedade da pobreza. A resposta para combater a pobreza, o problema social, então, não é adicionar dinheiro mas criar ou gerar riqueza; é por isso que o título deste manual é sobre geração de riqueza, e não meramente geração de renda.

Você pode fazer três coisas com a riqueza: (1) consumi-la, (2) armazena-la, e (3) investi-la.

Para ilustrar isso, deixe-nos pegar o exemplo de um fazendeiro africano. Considerando que a grande maioria de fazendeiros no continente são mulheres e garotas, usaremos "ela", mas não vamos discriminar ou esquecer os homens. Digamos que ela tenha acabado de colher uma safra de milho. Ela pode (1) consumir, (2) armazanar, ou (3) investi-la. Ela pode cozinhar e comer parte, com seus amigos e parentes; isso é para o (1) consumo. Ela pode guardar parte em um container; isso é para o (2) armazanamento. Se parasitas e pestes destroem parte do milho armazanado, nós temos que chamar isso de uma forma infeliz de consumo. Ela pode também colocar parte do milho à parte para usá-lo como semente, para plantar e crescer outra safra no futuro. Isso é (3) investimento na sua riqueza, o milho (que é relativamente escasso e útil).

A dica para aumentar a riqueza num sistema econômico, então, é investimento, onde consumo imediato é precedente no presente ou a curto prazo, para fazer uma produção crescente de riqueza no futuro. Nosso complexo mundo moderno não é tão simples como um dos fazendeiros fazendo três escolhas, mas o princípio permanece o mesmo, investimento leva a aumento da riqueza, e ao combate da pobreza.

1.3. Pobreza:

O que causa pobreza. O problema social da pobreza. A ausência de dinheiro é a medida e o sintoma da pobreza; não a causa?  Tratar o sintoma não irá curar a doença. As causa do problema social da pobreza repousa em diversos fatores, especialmente os cinco grandes: doença, ignorância, desonestidade, apatia e dependência.

Doença torna o suprimento de trabalho da sociedade menos produtivo. Doença e morte subtraem um dos três principais fatores de produção, o trabalho humano. Doença por si só pode ser reduzida por um bom entendimento de como preveni-la, e assegurando-se que a riqueza pública tem seu uso direcionado à prevenção e que a cura de doenças não tem como objetivo o ganho pessoal. Assim os fatores da pobreza são interligados: desonestidade e ignorância contribuem para doença, e todos os três contribuem para a pobreza.

Ignorância, como mencionado em outro lugar, não é uma coisa vergonhosa, é apenas um fato. É causada pelo isolamento, então algumas pessoas não sabem coisas simplesmente porque elas nunca ouviram falar dessas coisas (informação). Outros fatores da pobreza podem contribuir com a ignorância, incluindo a doença e a desonestidade. Mas ambos fatores contribuem para uma menor disponibilidade de educação e informação.

Desonestidade, por sua vez, é a maior causa da pobreza como um problema social. Quando alguém em posição de confiança desvia centenas de valores em direção ao uso pessoal, a sociedade como um todo pode perder muito mais que uma centena de valores que poderiam contribuir para o desenvolvimento e para a redução da pobreza. Essa é a parte que os economistas chamam de "efeito multiplicador". Desonestidade desenvolve-se numa atmosfera de apatia, ignorância e dependência, então aqui há outro exemplo da interligação dos fatores da pobreza.

Note que isso não é um julgamento de valor. Nós não dizemos que desonestidade, doença, ignorância e apatia são ruins. Isso é para os nossos líderes religiosos ensinarem o que é bom e mau. Isso é apenas uma análise científica (ciência social) dos fatores da pobreza. Para combatero problema social da pobreza (se isso é uma decisão das pessoas) é necessário identificar e analisar as causas da pobreza.

Isso é apenas uma análise científica (ciência social) dos fatores da pobreza. Para combater o problema social da pobreza (se isso é uma decisão do povo) é necessário identificar e analisar as causas da pobreza. Esses fatores, por sua vez, são resultados de cinco causas-chave: apatia, doença, desonestidade, dependência e ignorância.

Esses fatores, por sua vez, são resultados de cinco causas-chave: apatia, doença, desonestidade, dependência e ignorância. A falta de instalação de assentamentos humanos públicos e serviços pertencentes ao público ou de propriedade coletiva. Isso inclui a ausência de acesso a instalações de saúde e instalações de educação, ausência de infra-estrutura como estradas, mercados, eletricidade ou telefone, e ausência de outras infra-estruturas públicas como sanemanto, água potável e reserva de comida confiável.

Essas formas de riqueza pública diferem da propriedade privada, onde a pobreza é manifestada em baixos ou nenhum salário, falta de terra ou outra propiedade, ausência de capital privado (ferramentas, prédios, fábricas), e ausência de habilidades humanas. O ataque à pobreza no setor público é descrito com mais detalhes no primeiro desses manuais, "Manual para Mobilizadores". Este manual enfatiza a formação de capital privado e a redução da pobreza através da estimulação da micro-empresa privada.

1.4. Investimento:

Este método inicia, em um nível muito baixo, o investimento privado que, se cria raízes e cresce, contribui para a geração de riqueza em todo o país e a erradicação da pobreza.

A riqueza existente pode ser direcionada rumo ao consumo ou ao investimento. Milho, como um alimento, é um exemplo de um bem de consumo. Uma enxada de jardim, usada para preparar a terra cultivável, é um exemplo de um bem capital. Um bem capital não pode ser diretamente consumido, mas pode contribuir para o aumento futuro da riqueza. Investimento significa direcionar a riqueza no sentido da produção de capital, que é necessário para contribuir para o crescimento da riqueza na comunidade e na sociedade. Este manual mostra a você como iniciar o investimento.

Um negócio de produção em pequena escala, especialmente no processo inicial de produtos agrícolas, é mais efetivamente executado por empreendedores individuais. O processo inicial é altamente necessário por todo o continente, e é o setor mais promissor para a redução da pobreza numa larga escala de base. Seu trabalho como mobilizador é introduzir indivíduos com baixa renda, especialmente mulheres (e também jovens desempregados, inválidos, vulneráveis), para tornarem-se criadores de riqueza, ou seja, empreendedores de fazendas individuais processando colheitas agrícolas.

2. Crédito e Investimento:

O método apresentado neste manual é para introduzir crédito para futuros empreendedores, que utilizarão a poupança de outras pessoas (como empréstimos) para desviar da concepção imediata em direção ao investimento e à criação de riqueza.

Quando alguém toma dinheiro emprestado, não é um presente; ele terá que ser pago de volta. Se não é pago de volta, o emprestador está incurso em roubo, e é desonesto. Se há uma atitude difundida de que empréstimo de dinheiro não precisa ser pago de volta, essa desonestidade é um dos cinco fatores de pobreza como um problema social.

As causas da inadimplência num empréstimo podem ser inocentes o bastante: irrealista e alta esperança, ingenuidade (de ambos credor e devedor), e expectativas que não são realistas (ao tempo que o empréstimo é feito). Um empréstimo irrealista pode ser uma causa principal de quebra de confiança e de término de amizades. Tem feito também muitos governos falirem.

Como um mobilizador, na sua cruzada contra a pobreza, é sua responsabilidade que nenhum empréstimo feito para criar riqueza seja altamente irrealista. Você deve ser capaz de honestamente dizer a si mesmo, a respeito de todo empréstimo que você aprove ou recomende, que ele será pago (100%). Se não, você estará apoiando a sobrevivência da pobreza. Como disseram Eldritch Cleaver e Malcolm X, "Se você não faz parte da solução, então você faz parte do problema."

2.1. Valor Agregado:

Lembre-se da história sobre a fazendeira e as suas escolhas sobre o que fazer com a colheita de milho? Foi mencionado que ela poderia consumi-la, armazenar ou guardar um pouco para utilizar como semente. Uma quarta alternativa é outra forma de investimento, ela poderia processa-lo. Milho moído é mais valioso que o milho não moído. Adicionando fatores de produção (terra, trabalho, capital) ela pode agregar valor para o milho dela (ou de outra pessoa) moendo-o.

O processamento do milho gera riqueza. Mas ele não acontece por si só; ela deve injetar capital (instrumentos, incluindo uma máquina de moer), terra (um lugar para moer), e trabalho (colocar o milho na máquina; tirar o produto). Se o valor da produção, milho moído, é mais que a combinação do valor original do milho não moído e os custos da processo de moe-lo, então a riqueza real (não apenas dinheiro) foi gerada pela atividade. É nessa pequena história que encontramos a essência da luta contra a pobreza numa escala continental. Isso é "valor agregado".

A maior parte da África, de fato a maior parte do mundo em desenvolvimento, é agrícola. Alguma safras são exportadas por dinheiro, mas a maioria é consumida pelos produtores. Um dos importantes elementos ausentes é o processamento inicial (deixe o subsequente) dos produtos agrícolas. Se conseguirmos encontrar um meio de preencher este vazio, ajudando as mulheres a lutar contra a pobreza pessoal e familiar, então apoiamos uma batalha revolucionária na guerra contra a pobreza. A tarefa mais importante é identificar o setor de "valor agregado" quando o valor que é adicionado contribui para a erradicação do problema social da pobreza difundida.

2.2. Utilizando Dinheiro Emprestado para Criar Riqueza:

O dinheiro que é emprestado pelo credor e tomado em empréstimo pelo emprestador é crédito. O "principal" desse empréstimo é o montante emprestado. O "juro" no empréstimo é o valor "alugado" e usado no empréstimo. Taxas de serviço podem ser somadas como taxas subsequentes do empréstimo do dinheiro.

Quando falamos sobre o investimento da fazendeira que deixa de lado parte da colheita para utilizar como sementes, ela está investindo em sua própria riqueza. O grupo-alvo em que você foca (beneficiários), mulheres de baixa renda, podem não ter dinheiro suficiente para investir em sua própria riqueza. Outras pessoas podem ter riqueza armazenada que elas queiram "alugar" (por um preço, o juro) para que outros invistam. Esse é o crédito que é um recurso disponível.

Não dê ao seu grupo-alvo dinheiro (subsídio) como capital para investir; não distribua máquinas de costura; isso os faz tornarem-se dependentes de uma recurso insustentável como um fator de sua produção. Ao invés disso, dê a eles algum treinamento e ajude-os a obter algum crédito que seja um empréstimo de tamanho realista e que eles possam usá-lo como um investimento para criar riqueza, e pagá-lo de volta, tanto o principal como os juros através da riqueza que eles criaram.

2.3. Por que crédito e não subsídios?

O manual central para o qual esse é um acompanhante (Manual para Mobilizadores), aponta um importante princípio de autorização e fortalecimento. Se os seus músculos não se exercitam, eles se atrofiam (ficam mais fracos); se você faz flexões, seus braços ficarão mais fortes. Se uma comunidade recebe tudo, não se tornará auto-confiante. Se você dá dinheiro a uma pessoa de negócios, você a treina para tornar-se dependente de presentes ou caridade.

Se uma pessoa quer começar um negócio, ela precisa de capital financeiro para iniciá-lo. Se você der esse dinheiro a ela, está treinando-a para a dependência. Esse capital financeiro é valioso, e ela deve pagar algum aluguel por possui-lo temporariamente e utiliza-lo. Esse "aluguel" pelo uso do dinheiro de outra pessoa é o "juro" que ela deverá pagar no empréstimo do dinheiro. Da mesma forma como alguém paga o aluguel pela acomodação ao dono de uma casa, deve o tomador do empréstimo pagar o juro para o dono do dinheiro.

Ela deve também pagar o empréstimo de volta. Não é um presente, esmola, ou caridade. É uma entrada de negócio ou um recurso, e é alugado. Há que ser devolvido. A casa alugada, assim como o dinhero tomado em empréstimo, continua sendo propriedade do seu dono. (senhorio, credor).

Se você permite ao empreendedor que ele inadimpla o empréstimo (não o pague de volta), você presta dois desserviços: (1) ao indivíduo e à comunidade e sociedade como um todo. O empreendedor obterá um treinamento que encoraja a dependência e (2) desonestidade (os dois maiores fatores do problema social da pobreza) e você contribui para a ingerência e perda de capital no sistema econômico. O empreededor perderá uma importante lição de fortalecimento pessoal na gerência de um negócio viável, enquanto a sociedade perde mais um potencial para o crescimento econômico e erradicação da pobreza.

Note que não foi feito um julgamento moral sobre a inadimplência num empréstimo. O não pagamento do dinheiro de volta ao seu dono (o que é roubo) pode ser imoral ou um crime, mas cabe aos nossos líderes religiosos e mantenedores da lei cuidarem disso. Uma análise sob o ponto de vista da ciência social aponta meramente como isso reforça o problema social da pobreza.

A necessidade de enfatizar que subsídios não devem ser dados, que empréstimos devem ser pagos de volta, e que deve ser pagar por eles (juros), são três boas razões pelas quais empréstimos iniciais para tomadores inexperientes (seu grupo-alvo) devem ser pequenos (isso é, acessíveis), e portanto mais "repagáveis".

2.4. A que taxas de juros?

Se o seu objetivo é treinar novos empreendedores para tornarem-se fortalecidos, para criarem e gerenciarem empreendimentos viáveis, então seus empréstimos não devem ser livres, e os juros não subsidiados.

Muitas pessoas, ao ouvirem isso pela primeira vez, talvez objetem. "Mas são mulheres pobres! Não devemos forçá-las a pagar os juros dos empréstimos! Elas são pobres demais!" Seu sentimento é de caridade, mas sua análise é fraca. Nós queremos condicionar pobres mulheres a continuarem pobres? Ou queremos fortalecê-las? Se nós queremos treiná-las para serem autoconfiantes e para criar riqueza, então nós devemos treiná-las para planejar um negócio rentável, que gere lucros suficientemente altos para pagar o valor de mercado pelo "aluguel" (juros) por usar o dinheiro de outras pessoas. Melhor para guiá-las em direção à criação de um negócio de menor escala, para ganhar experiência, para tomar menos dinheiro emprestado, ter um lucro honesto e pagar de volta ambos o empréstimo e o seus juros.

Certifique-se de que seu grupo-alvo, seus participantes, são treinados desde o começo para serem fortes o bastante para pagar uma taxa de juros de mercado, as mesmas cobradas por um banco privado ou público.

2.5. Que tamanhos de empréstimos?

O prefixo "micro" significa minúsculo. Essa metodologia é direcionada a pessoas de muito baixa renda que nao tenham experiência em negócios. Micro empresa. Se alguém já é bem-sucedido em um negócio, e precisa de um empréstimo de 50,000000/=($50,000), então não pertence a este grupo-alvo, e deve procurar outro lugar.

Este esquema é direcionado a indivíduos que inicialmente tomarão empréstimos entre 10,000/= e 100,000/= ($10 a $100) e usá-los para gerar riquezas. Se eles forem bem-sucedidos na primeira vez, obtiverem lucro, mantiverem relatos precisos, pagarem os juros assim como o principal, então eles poderão tomar um segundo empréstimo maior. Se a variação é de 10 a 100, nenhum empréstimo poderá chegar a 100. A média dos empréstimos deve ser entre 50 e 60.

O segundo empréstimo pode ser de duas a vinte vezes maior que o primeiro empréstimo, dependendo de quão prontamente foi pago de volta o primeiro, incluindo os juros e o seu próprio trabalho. Se eles não conseguem aprender a obter lucro com um empréstimo de 100,000/=($100), então não podemos esperar que eles tenham lucro com 1,000,000/= ($1,000).

O terceiro empréstimo pode ser de duas a vinte vezes maiores que o segundo empréstimo, novamente dependendo do nível de sucesso da segunda vez. Seu trabalho como mobilizador é desafiar cada participante, que é um potencial empreendedor. Isso será expandido no capítulo cinco.

Muito frequentemente o participante será ingenuamente otimista, e pedirá um empréstimo superior à sua capacidade de usá-lo na geração de riqueza e obtenção de lucro. Ele deve ser realista sobre a proposta do negócio que estabelecerá um empreendimento viável, sem basear-se na ignorância ou ilusão.

Manter o empréstimo inicial pequeno é uma importante contribuição para a viabilidade.

3. Organização de grupos:

Lembre-se que este manual, assim como os que o acompanham, é direcionado a mobilizadores comunitários, ou animadores. Qual é a habilidade mais importante para um mobilizador? É a habilidade de organizar o grupo para a ação. Agora pode soar estranho que o método de geração de riqueza proposto por nós seja direcionado ao indivíduo (empreendedores de baixa renda), ainda assim nós precisamos de habilidades de facilitação de grupo no mobilizador comunitário. Se observamos de modo geral todo o método cuidadosamente, contudo, parece menos estranho. Alguns elementos essenciais de todo o processo envolvem treinamentos individuais, outros elementos envolvem organização de grupos.

Você já está habilitado e experimentado como um mobilizador comunitário (veja "Manual para Mobilizadores") direcionando-se ao combate da pobreza comunitária através da promoção da auto ajuda de projetos comunitários. Agora você pode adicionar ao seu conjunto de ferramentas os conceitos, princípios, e metodologia desse manual, e encontrar outros usos para seus conceitos de mobilização e habilidades.

A pirâmide que você irá organizar tem um grupo guarda-chuva no topo, cinco a sete grupos de confiança no meio, e empreendedores individuais na base. Cada indivíduo pertence ao grupo de confiança, e todos pertencem ao grupo guarda-chuva. Os indivíduos desempenham diferentes papéis como estagiários e participantes, em cada nível da pirâmide. Eles criam um micro empreendimento que produz o tão desejado "valor agragado", e eles são os participantes e membros dos grupos que facilitam os seus negócios.

3.1. Grupos de Confiança:

Um grupo de confiança é composto por cinco a sete indivíduos, geralmente mulheres, que se conhecem e confiam umas nas outras. Como um mobilizador, você constrói vários grupos de confiança em um grupo comunitário maior (20-40). Você pode dar a cada participante um pedaço de papel, ela colocará seu nome nele, e então uma linha, e então os nomes de cinco pessoas em que ela pode confiar para ter em posse o seu dinheiro. É útil ter um ou dois assistentes fazendo isso. Então, confidencialmente, você toma de volta os papéis e agrupa esses participantes em novos grupos.

Se uma participante não tiver o seu nome em nenhuma lista, então ela não poderá integrar o grupo de confiança. Ela poderá reclamar, mas você deve ser firme, de que ela deve ter pelo menos quatro ou cinco mulheres que confiam nela antes que ela possa pertencer a um grupo de confiança.

Conforme o tempo passa, alguns indivíduos podem deixar o grupo; eles perdem o interesse, imigram, encontram uma ocupação paga, ou outra coisa. O grupo de confiança deve então decidir, por consenso, retirar o nome do sócio do grupo. Contrariamente, uma pessoa pode ser, ou tornar-se, conhecida por um grupo de confiança, e querer optar por ele. Ela pode integrar o grupo desde que o tamanho máximo seja de sete pessoas, e se ela é unanimamente aceita pelos outros. Embora não seja necessário, você pode pedir a cada grupo de confiança que se dê um nome: sério ou humorado, como eles queiram. A escolha do nome deve ser por consenso de todos os membros do grupo de confiança. Se um outro grupo já tiver escolhido um nome em particular mencione isso, e evite nomes duplicados.

Cada grupo de confiança escolherá, unanimamente, uma dos seus membros para ter a posse do dinheiros por elas. Ela não precisa ser alfabetizada, mas tem que ter a confiança dos outros membros. Entre os encontros, esse "provedor" (ou tesoureiro) tem a posse do dinheiro de todo o grupo de confiança.

Cada grupo de confiança deve reunir-se, prefencialmente semanalmente, e cada membro deposita a mesma quantidade de dinheiro com o tesoureiro. Uma pessoa pode ter duas sociedades, e então depositar duas vezes a quantia. Cada grupo de confiança deve concordar que o pagamento semanal deve consistir no que o grupo guarda-chuva escolher (todo membro do grupo de confiança é também membro do grupo guarda-chuva).

Como com tradicionais grupos de rotação de crédito, os grupos de confiança devem ir adiante em fazer outras coisas em seus encontros semanais. Isso difere de grupo para grupo, comunidade para comunidade, país para país.

Seu trabalho é organizar de cinco a sete grupos de confiança para cada grupo guarda-chuva.

3.2. Grupo Guarda-chuva:

Então você mobiliza e organiza um grupo "guarda-chuva" maior (composto por todos os grupos de confiança) para um grande empréstimo (bancos não querem fazer pequenos empréstimos) e para o treinamento das habilidades necessárias para investimento, empreendedorismo e produção. O grupo guarda-chuva está no topo da pirâmide (que você organiza). Cada membro de cada grupo de confiança é um membro do grupo guarda-chuva. Ninguém pode ser um membro desse guarda-chuva a não ser que seja um membro participante de um dos grupos de confiança que o constituem. Como um mobilizador você não deve ser um membro de nenhum grupo de confiança. Você os organiza.

Cada grupo guarda-chuva deve ter um nome escolhido por seus membro: um slogan de encorajamento, boa-sorte, sabedoria, prosperidade ou uma frase positiva similar. Ao contrário dos grupos de confiança, o grupo guarda-chuva deve ser um pouco mais estruturado, talvez com um executivo normal de cadeira, vice, secretário, tesoureiro, outras funções de escritório (como for considerado necessário pelo grupo) e um ou dois membros livres. O executivo deve ter pelo menos um membro de cada e todos os grupos de confiança.

O grupo guarda-chuva deve reunir-se a cada três ou cinco semanas, preferencialmente ao mesmo dia da semana e mesmo horário. Todos os membros de cada grupo de confiança devem comparecer. Membros do executivo que faltarem a mais que duas ou três (definidio pelo grupo) encontros consecutivos, devem ser substituídos por membros mais participativos ou ativos. As principais tarefas do grupo guarda-chuva são: (1) tomar os depósitos regulares ou contribuições dos grupos de confiança, (2) quebrar um grande empréstimo bancário em empréstimos menores que irão para os grupos de confiança, e (3) receber de volta os pagamentos dos empréstimos dos grupos de confiança.

Durante as reuniões do grupo guarda-chuva, todos os pagamentos devem ser públicos, verbalmente anunciados, gravados, e o mais transparente possível. Ajude cada grupo guarda-chuva a desenvolver um estilo aberto de fazer pagamentos em cada direção. Um membro designado deve anunciar de onde vem cada pagamento, para que serve, e para aonde está indo. Simultaneamente, outra pessoa (o tesoureiro) grava cada pagamento no lugar apropriado no livro razão apropriado. Cada participante (o tesoureiro de um grupo de confiança), deve levantar-se, trazer o dinheiro e contá-lo para que todos possam ver. Faça disso um ritual público.

Outra responsabilidade do grupo guarda-chuva é decidir a respeito e determinar a quantidade de dinheiro e o intervalo das contribuições dos indivíduos dos grupos de confiança.

O grupo guarda-chuva então torna-se o único "sujeito legal" ou parte que lida com o banco, abre reservas, contas, faz depósitos, negocia empréstimos (a junção de todos os pequenos empréstimos individuais direcionados pelos grupos de confiança), toma um único grande empréstimo, e divide-o em empréstimos de tamanho médio proporcionais para os grupos de confiança para depois distribuí-los aos membros individuais.

Os grupos de confiança e o grupo guarda-chuva são compostos dos mesmos indivíduos, e complementam um ao outro em papéis e funções. Conjuntamente, eles formam uma pirâmide que é uma ponte vital entre o banco (ou outra agência de empréstimo) e os empreendedores individuais.

3.3. Grupos de Treinamento:

O treinamento tem lugar em todos os três níveis da pirâmide: o grupo guarda-chuva, os grupos de confiança, e os empreendedores individuais. Cada nível tem diferentes tipos de treinamento (tópicos e métodos) para diferentes propósitos, enquanto há alguma sobreposição, e uma relação funcional entre os diferentes níveis.

Treinamento financeiro é necessário para os três níveis da pirâmide, embora aspectos específicos variem. Veja uma lista de diferentes tópicos de treinamento financeiro; ser sensível às necessidades expressas dos diferentes grupos conforme você organiza seu plano de treinamento.

Organize o seu treinamento de acordo com as necessidades da pirâmide. Não mantenha uma oficina onde indivíduos estranhos à pirâmide estejam presentes. Mantenha o treinamento de grupos o menor possível, 8-15 pessoas. Contrate treinadores temporários especializados nas várias habilidades necessárias. (Veja Capítulo 4, abaixo): gerenciamento, planejamento, crédito, comunicações; mercado e produção. Treine os seus treinadores para utilizarem uma abordagem facilitadora ao invés de uma abordagem discursiva. Assegure-se de que as sessões de treinamento são todas conduzidas de uma maneira prática, onde habilidades não são ensinadas como teoria, mas com exemplos concretos do que os grupos e os empreendedores estão fazendo.

4. Habilidades Necessárias para Geração de Riqueza:

O que um indivíduo precisa saber, e precisa saber como fazer, a fim de criar e manter um empreendimento bem-sucedido, rentável, e privado? Lembre-se que o seu grupo-alvo é de baixa renda, geralmente analfabetos ou semi-analfabetos, simples, com um pequeno conhecimento geral do mundo, desabilitados tecnicamente, desinformados sobre como obter crédito ou gerenciar dinheiro, pessoas, coisas.

Quase nada necessário para tocar um negócio pode ser incluído nas habilidades necessárias.

Os tipos de habilidades necessárias podem ser colocados em diversas categorias:

  • Habilidades gerenciais: gerenciar pessoas, recursos físicos, finanças;
  • Habilidades financeiras: manter registros precisos, fazer orçamentos, calcular lucros e perdas;
  • Habilidades comunicativas: fala, escrita, leitura;
  • Habilidades de mercado: pesquisa, vendas, empreendedorismo;
  • Habilidades de crédito: tomada de empréstimo, negociação com bancos ou outros credores, juros;
  • Habilidades técnicas: as físicas aplicadas, química, biologia, habilidades artesanais de uma escolha rentável e um empreendimento produtivo.

Este capítulo identifica algumas dessas habilidades necessárias, e direciona você, o mobilizador, a caminhos de compartilhamento dessas habilidades com o seu grupo-alvo.

4.1. Habilidades de Planejamento e Gerenciamento:

A empreendedora em pequena escala deve saber como gerenciar seu negócio. Ela deve saber mobilizar recursos (entradas). Ela deve conhecer sobre pessoas; não uma equipe primeiramente, se ela está começando muito pequena, mas colaboradores, membros da família, consumidores, investidores, autoridades. Habilidades em interação humana são necessárias. Para você, como mobilizador, várias habilidades de gerenciamento foram descritas na construção e manutenção das instalações públicas e serviços ("Manual para mobilizadores"), acompanhando este manual. Seu desafio agora é converter esse treinamento gerencial para este esforço.

Habilidades de gerenciamento e planejamento incluem a identificação das necessidades, a geração de objetivos, alocação de recursos, identificação de obstáculos, planejamento de possíveis estratégias, escolhendo a estratágia mais efetiva, e determinando detalhes importantes como orçamentos, monitorando métodos, esclarecendo funções e tarefas, desenvolvendo planos de trabalho, e fazendo mudanças em resposta às avaliações.

Para uma analfabeta empreendedora de pequena escala, isso não pode ser muito elaborado, sofisticado, ou escrito, mas deve ser discutido e considerado por ela. Seu trabalho como mobilizador é desafiá-la a demonstrar que ela considerou todos esses fatores e tomou decisões realistas.

4.2. Habilidades de Crédito:

A maioria das pessoas reconhece que habilidades são necessárias para trabalhar num banco. O que muitos ignoram é que habilidades também são necessárias para ser cliente de um banco. Para uma pessoa de baixa renda, especialmente se analfabeta e humilde, um banco é um lugar ameaçador e temeroso. Os costumes e procedimentos esperados são estranhos e incompreensíveis.

Seu grupo-alvo (beneficiários) são pessoas que precisam aprender sobre a natureza do crédito, as instituições que fornecem crédito, e as pessoas nessas instituições.

Especialistas em empréstimo informal podem cobrar mais de 200% por ano em juros, sem que isso fique explícito ao tomador do empréstimo. Bancos emprestando a taxas comerciais ou governamentais são muito menos caros. A ignorância de habilidades para obter crédito é uma barreira para se ultrapassar.

As habilidades que o seu grupo-alvo precisa são entendimento do crédito, princípio, juros, taxas de serviço e todos os métodos e procedimentos para emprestar e devolver dinheiro.

Assim como com outras habilidades, o melhor método para aprender sobre crédito é fazendo.

4.3. Habilidades de Mercado:

É inútil para uma empreendedora de pequena escala investir seus recursos na produção de um valor, e então não ser hábil para vender esse produto. Vendas fornecem o dinheiro para pagar de volta o empréstimo e outros débitos, pagar a si própria e a outros um salário justo, e pagar todos os outros custos da produção antes de tirar um lucro justo. Habilidades de mercado incluem conhecimento sobre como encontrar consumidores interessados (incluindo habilidades de pesquisa para encontrá-los), e como apresentar o produto de maneira atrativa aos compradores.

Não importa o quanto entusiástica e otimista uma empreendedora possa ser, seu negócio não será viável se ela não puder vender o seu produto. Seu trabalho como mobilizador é desafiá-la a demonstrar que ela tem um plano de mercado e uma estratégia realistas. Veja Mercado.

4.4. Habilidades Financeiras e Contábeis:

A menos que os participantes do seu grupo-alvo possam sempre saber sua posição financeira, e calcular sua renda e custos, eles podem incorrer em sários problemas financeiros. A taxa de contabilidade e tarefas de orçamentonecessários é dependente do tamanho e da complexidade do empreendimento.

A habilidade mais essencial (e o hábito a ser encorajado) é a manutenção de um livro-razão diário de contas, não importa o tamanho do negócio. O primeiro treinamento em contabilidade, portanto, deve ser mantido nas anotações financeiras. Assim como com outros treinamentos de desenvolvimento capacitatório, evitar discursos, pregações, pontificações ou estilos ditadores de apresentar o material. Veja "Manual para Mobilizadores"; aprendendo para o desenvolvimento capacitativo deve ser pela facilitação.

Se você organiza uma oficina, mantenha-a pequena. Limite o número de participantes ao máximo de dez. Cada participante deve ter um negócio planejado, e, durante a oficina, preparar documentos financeiros específicos para os seus negócios planejados ou em andamento. Eles devem começar com exercícios de registros (livro-razão), e prosseguir com exercícios de relatório (extratos financeiros).

4.5. Habilidades Técnicas:

Como você não irá ditar para os participantes do seu grupo-alvo o setor que eles escolherão, seu conselho para eles é guiá-los em direção ao processamento inicial dos produtos agrícolas. Para eles tocarem um negócio bem-sucedido, então, eles devem saber o suficiente sobre processamento; conhecimento técnico.

Empreendimentos de pequena escala nos seguintes setores devem ser encorajados: cultivo externo e agroprocessamento (moagem, fornada, pesca, defumação); artesanato (reparação e fabricação de equipamento do cultivo; produção de tijolos, tecelagem, construção, alfaiataria, carpintaria), preparação de comida e mercado ou comércio trivial. Conforme as habilidades necessárias vão sendo identificadas, você vai transferindo essas habilidades para o seu grupo-alvo apropriadamente.

Evite discursos em sala de aula, com um conferencista zumbindo sobre o procedimento. Procure inovações criativas, não-ortodoxas e relevantes métodos de treinamento.

Enfatize atividades práticas (aprendemos melhor fazendo). Visite processos operacionais e empreendimentos, de diferentes tipos e tamanhos; converse com proprietários e trabalhadores. Traga treinadores com prática, experiência, mas não os deixa discursar; deixe-os facilitar e demonstrar (ensine métodos facilitadores aos seus treinadores), de forma que os participantes possam colocar a mão na massa.

4.6. Métodos de Treinamento:

Ao contrário do "treinamento como mobilização", como no capítulo 3 acima, ou em mobilizando comunidades para resolver problemas comunitários (Manual para Mobilizadores), treinamento neste capítulo enfatiza transferência de habilidade. Porém, não é um treinamento ortodoxo e institucional. O método central é treinamento no "trabalho", o que significa que cada participante (estagiário) deve ser totalmente participativo na criação e manutenção do seu próprio negócio.

Evite convidar não participantes, exceto treinadores, para qualquer das suas oficinas. Mantenha oficinas pequenas e de meio-período na localidade de cada um dos seus participantes, usando o local do empreendimento deles como local de encontro e exemplo do treinamento.

Prepare um plano de treinamento flexível, rotativo, participativo e sensível. Os principais tópicos do seu treinamento devem ser os seguintes: planejamento, habilidades de gerenciamento, habilidades em obtenção e uso de crédito, habilidades de mercado, habilidades financeiras e contábeis, e habilidades técnicas (de produção). Modifique o plano de acordo com o seu monitoramento das necessidades e dos pontos fracos dos participantes.

Obtenha especialistas experientes em cada tópico, mas assegure-se de que eles tenham uma abordagem facilitadora e participativa (você ensina aos treinadores essas técnicas), e assegure-se de que os todos os participantes tenham experiência supervisionada que seja relevante e válida para os empreendimentos escolhidos.

5. Mantendo um Empreendimento Bem-Sucedido:

Esse capítulo examina alguns dos fatores ou razões do sucesso e fracasso na manutenção de um empreendimento produtivo. Lembre-se que este manual é planejado para você, o mobilizador, que quer lutar contra as causas da pobreza como um problema social. Mantenha esses fatores em mente enquanto dá encorajamento, treinamento, conselhos e suporte aos participantes que querem gerar riqueza.

O sucesso de um empreendimento pode primeiro ser medido pela sua viabilidade. Pode sobreviver? É sustentável ou irá quebrar quando o suporte externo for retirado? Financeiramente, viabilidade significa que o empreendimento é rentável. Isso significa que a renda do negócio é maior que as despesas. O nível de lucro deve ser alto o suficiente para que o empreendedor não decida que alguma outra atividade vale mais a pena.

Duas importantes características que contribuem para a viabilidade e o lucro são integridade e boa vontade. Integridade significa que o negócio é mantido de uma maneira honesta e honrável. Se não, no fim das contas irá falhar.

Boa vontade é um conceito especial em negócios; significa o conjunto de todos os bens não-materiais de um negócio: sua reputação (isto é, para qualidade do serviço, para reputação, para dependência), sua popularidade, seu bom nome (quanto é reconhecido pelos consumidores e fornecedores), quanto crédito pode atrair, e quão boa "imagem" tem diante do olho público. Uma terceira caracterísitica é ser prático, pragmático e forte, não ser traído ou enganado.

Esses três contribuem para a viabilidade, e seu trabalho como mobilizador é transmitir essa simples mas importante mensagem para o seu grupo-alvo.

5.1. Viabilidade:

A característica mais importante do negócio que você ajuda a fundar é que seja bem-sucedido. Deve ser hábil a sobreviver. Se pode sobreviver, é considerado viável. Viabilidade requer várias coisas, mas a característica principal é que gere lucro.

O que é lucro?

Depois que você adicionar todos os custos da produção (terra, aluguel, trabalho, salário, capital, incluindo os custos do crédito) e você subtraí-los de toda a renda (ou seja, vendas, aluguéis, taxas), e se obtiver um número positivo, é a quantidade de lucro. Se você tiver um número negativo, é a quantidade de prejuízo.

Um negócio pode incorrer em alguma perda, por algum tempo, mas, a longo prazo, deve ter lucro para sobreviver.

Você, como mobilizador, quer fazer duas coisas aparentemente contraditórias: (1) encorajar pessoas de baixa renda a criar e manter um negócio (ser otimista) mas também (2) encorajar cuidado para evitar demasiado entusiasmo (ser realista) para começar um negócio que pode falhar. Como em qualquer trabalho de desenvolvimento, comece pequeno, sendo modesto, e ganhe sucesso; isso irá encorajar outros a participar. Como diz o clichê, "sucesso gera sucesso".

A chave para resolver o paradoxo ou a aparente contradição entre otimismo e realismo é como você avança na sua mobilização. Você encoraja os participantes-alvo para que cada um deles inicie um negócio, mas somente negócios viáveis. Se você menciona isso desde o início, você não deixa para um sermão introdutório. Através de todo o processo de organização você desafia seus participantes a planejar para viabilidade.

Exemplos práticos desse planejamento estão incluídos em alguns dos apêndices. Copie os formulários e as instruções para distribuir nas oficinas, e exija que cada participante produza uma plano de trabalho realista para fazer um empreendimento viável. Lembre-se, oficinas não são meramente conferências; os participantes devem estar preparados para trabalhar e sua produção deve ser obtida através de planos de trabalho realistas para o início e manutenção de empreendimentos viáveis.

Novamente, aprender fazendo, não apenas ouvindo discursos, exortações, palestras ou sermões.

5.2. Integridade:

Lembre-se do Capítulo Um e dos cinco grandes entre os vários fatores da pobreza. Aqui é quando você tem um importante papel no ataque contra as causas da pobreza. Desonestidade é uma das grandes cinco. Cuidado! Não seja um pregador a fazer sermões contra a desonestidade. Isso é para os nossos líderes religiosos moralistas. Não. De uma maneira calma, informativa, e confidente, você explica que a sobrevivência do negócio depende da viabilidade, variedade requer lucro, um negócio rentável deve ter integridade.

Se uma pessoa de negócios trai seus consumidores, eles não retornarão, e as vendas caem. Se ela trai seu fornecedor ele vai tentar obter seus recursos de outro lugar. Se ela paga pouco à sua equipe, os motivados e competentes irão embora, e apenas os incompetentes e corruptos permanecerão, levando o negócio à falência.

Lembre-se, o seu trabalho é lutar contra a desonestidade, o principal fator do problema social da pobreza, não pregando contra ela, mas ajudando as pessoas de baixa renda a desenvolver micro empreendimentos rentáveis, que requerem integridade para sobreviver. Incorpore o raciocínio lógico acima em todos os níveis da sua organização e do seu treinamento na pirâmide e nos negócios individuais.

5.3. Boa vontade:

O conceito "boa vontade" soa como o que chamamos "warm fuzzy" (isto é, soa atrativo mas não é muito prático). No jargão dos negócios, entretanto, "boa vontade" é uma característica concreta de qualquer negócio. É composta por todos os bens não-materiais do empreendimento. Inclui sua reputação, e o número de clientes e fornecedores, quão reconhecida é. Inclui o julgamento que as outras pessoas fazem de sua honestidade e integridade; as pessoas confiarão no seu negócio ou terão receio de serem traídas por ele? Em grandes companias como Coca Cola, Pepsi, Nile Lager, Sportsman, isso inclui os jingles musicais que ficam em nossas cabeças. Inclui o nível de quanto o lema de um negócio é familiar para as pessoas.

Todos esses intangíveis contribuem para o valor de um empreendimento, e são bens.

Como isso se relaciona com o seu treinamento e organização? Você se assegura de que os participantes do seu grupo-alvo reconhecem que a boa vontade será um fator válido e importante para o sucesso do negócio, e isso está conscientemente incluído no treinamento para manter um negócio viável.

Lealdade da equipe (assim como a lealdade dos clientes, e a lealdade dos fornecedores) é importante. Um empreendedor pode plantar as sementes da lealdade, e ajudá-las a crescer, no dia-a-dia, através da genuína preocupação com os outros. Estar interessados neles como pessoas, não apenas como fatores de produção. Conversar com eles respeitosamente e positivamente. Evitar críticas, mas dar-lhes dicas positivas e encorajadoras sobre como melhorar sua performance. Reconhecer conquistas frequentemente e antes das fraquezas. Saudar a cada um todos os dias na chegada ao local de trabalho. Não agir com arrogância ou superioridade com aqueles que tenham tarefas subalternas ou baixos salários.

Tratar todos com respeito amigável. Essa é a mensagem do seu treinamento.

Muitos pequenos ou novos restaurantes perdem clientes e vão à falência não porque sua comida seja ruim, mas porque sua boa-vontade é ruim. Às vezes isso é culpa de um treinamento inadequado da equipe. O empreendedor de um restaurante deve assegurar-se de que a equipe está informada de que a descrição do seu trabalho inclui a construção da boa-vontade do negócio. Isso é especialmente verdadeiro em qualquer empreendimento do setor de serviços. A equipe deve ser lembrada de que os clientes pagam seus salários, e devem todos ser tratados como chefes respeitáveis.

Uma atendente de mesa pode ser muito obsequiosa para oseu chefe, mas ser rude com os clientes quando seu chefe está ausente. Quando um item não está disponível, por exemplo, uma atendente de mesa não treinada apenas dirá "não disponível". Uma atendente que entende a boa-vontade, em contraste, dirá cordialmente que eles lamentam que não esteja disponível, e então oferece uma ou duas alternativas de uma maneira positiva e agradável. Se a equipe é leal ao chefe (por causa de sua boa-vontade) e ele os mostra que quer seus clientes sendo tratados com respeito amigável, o negócio irá florescer conforme os clientes o recomendam a outros, e sua boa-vontade irá aumentar.

5.4. Planejamento de som e Gerenciamento:

Conforme você vai demonstrando e encorajando os micro empreendedores a serem agradáveis, respeitáveis e amigáveis, como acima, você também mostra a eles como serem cuidadosos, cautelosos e meticulosos na manutenção de seus negócios. Ser amigável não significa permitir que fornecedores, equipe e consumidores tirem vantagem de você, ou o traiam.

Primeiro isso significa ter um plano e um orçamento práticos, viáveis e bem organizados. Segundo isso significa fixar-se a eles, ou ter boas razões para desviar-se deles. Terceiro isso significa bom monitoramento: assistir a produção e as mudanças financeiras, em detalhe, diariamente. Sempre saber o que está se passando. Quarto, quando as coisas saem dos trilhos, tomar decisões e agir rapidamente, para colocar as coisas no lugar novamente antes que elas piorem.

Como um mobilizador, sua tarefa é imprimir no seu grupo-alvo que eles não devem abandonar seus negócios. Da equipe e dos membros da família não se deve esperar ter a mesma motivação do empreendedor para fazer o sucesso do negócio. Delegar responsabilidades sempre que possível, especialmente conforme o negócio cresça, mas monitorar diariamente e mostrar interesse no que está acontecendo.

O interesse paga dividendos.

6. Apêndices:

Apêndices foram agora integrados aos módulos de treinamento.

Ilustrações:

Na versão impressa deste manual, há diversas ilustrações do processo de formação e treinamento de grupos para geração de riqueza. Eles consistem em desenhos em preto e branco feitos por Julianna Kuruhiira, do Ministério de Gênero, Trabalho e Desenvolvimento Social do Governo de Uganda. Aqui eles estão reunidos em um arquivo separado.

Se você está preparando um manual local baseado neste, e quer usar as ilustrações, elas podem ser baixadas deste site.  Para carregar o arquivo das ilustrações, basta clicar nisto: Ilustrações da Geração de Riqueza e as instruções para baixar e salvar todas ou algumas das ilustrações aparecerão com o arquivo.  A equipe não está negociando para obter desenhos com variações de fantasia e ambiente.

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Os três manuais:
Manual para Mobilizadores,
Manual para Geração de Riqueza,
Manual para Monitoramento.


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Última actualização: 25.11.2011


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