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PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS

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por Phil Bartle, PhD

traduzido por Inês Rato

Guia de Treinamento

Algumas coisas mudam de acordo com a forma como olhamos para elas

Introdução: Uma questão de ponto de vista:

De muitas formas, a sociologia é o estudo das coisas que vêmos na vida quotidiana, mas que não vemos da mesma forma. Esta é a característica de muitas ciências.

Falamos, por exemplo, do "sol a subir no horizonte todas as manhãs", ou "a desaparecer todas as noites."

A ciência da astronomia, no entanto, ensinou-nos já há muito tempo que o mundo não é plano e que não é o centro do universo, mas que é um globo revolvendo sobre o seu eixo e, quando roda, apenas aparenta que o sol está a surgir ou a desaparecer: mas não está.

Quando olhamos à nossa volta e vemos paredes e / ou objectos, vemo-los como coisas sólidas.

A física nuclear, porém, ensina-nos que aquilo que vemos como sólido, matéria continua, consiste principalmente de nada.

Espaço vazio.

São muitos núcleos atómicos rodeados de vácuo, à volta dos quais algumas coisas como os electrões voam.

Em termos relativos, é como uma mosca num campo de futebol americano.

Com a capacidade limitada dos nossos olhos, nós olhamos para estes milhões de núcleos e electrões, e vemos matéria sólida.

Os empiristas são pessoas que dizem que nós apenas podemos compreender as coisas que podemos observar, que não precisamos de teoria para interpretar estas coisas.

A astronomia, a física nuclear, e a sociologia ensinam-nos que precisamos de perspectiva antes de podermos ver as coisas –– que as meras observações podem não levar ao conhecimento.

Na vida quotidiana, podemos pensar que a sociedade é constituída por pessoas.

Em sociologia, a sociedade não é as pessoas.

Indivíduos transportam a sociedade nas suas crenças e acções (e interacções), mas não a sociedade em si mesmas.

A sociedade é um sistema de crenças e acções transportadas por seres humanos, mas é algo que transcende a esses mesmos transportadores.

O que significa, então, que as organizações sociais, como a família ou comunidade, não são as pessoas.

São sistemas, ou padrões, de crenças ou acções, pelas pessoas, que são transportadas pelas pessoas.

Isto não quer dizer que podemos definir sociedade (ou instituições sociais) de qualquer modo que queiramos, ou vê-la de qualquer forma que possamos desejar pessoalmente.

A sociologia é uma disciplina, e é necessária disciplina para a compreender.

Para aqueles que se envolveram na sociologia aplicada, intervenções que podem afectar famílias ou comunidades,

é necessário compreender a sociologia.. Isso quer dizer ter a capacidade de compreender a perspectiva sociológica.

A sociedade está no olhar do observador.


Árvores e floresta:

Há um velho provérbio, que diz que nós, "não podemos ver a floresta por causa das árvores."

Podemos aplicar a mesma ideia à perspectiva sociológica.

O provérbio implica que a floresta é grande, demasiado grande para ser vista de uma só vez, e próximo, tudo o que vemos são árvores.

Podemos estar a ver parte da floresta, mas isso não nos dá um bom entendimento sobre a floresta como um todo.

Na vida quotidiana, nós temos contacto com outras pessoas.

Podemos vê-las; podemos (normalmente) falar com elas.

Algumas vezes até podemos tocá-las (mas temos de ter cuidado onde tocamos).

Podemos não ver a sociedade, a comunidade ou a família, e podemos não conseguir tocar numa sociedade, numa comunidade ou numa família.

Mesmo que fossemos de avião e sobrevoassemos, não conseguiamos ver uma floresta, porque é um ecossistema, e inclui todas as interacções entre o solo, as plantas, os animais e o ar nesse sistema.

É muito mais que um conjunto de árvores.

Também assim o é a sociedade.

Não consiste nas pessoas (que podemos ver), mas nas crenças e acções, e é um sistema; não existe uma posição física a partir da qual possamos observar a sociedade.

As famílias e as comunidades são organizações sociais, e são desse modo algo mais do que os indivíduos que as compõem.


Uma perspectiva atomística:

Podemos usar a palavra "atomística" para designar uma perspectiva não sociológica (ou anti-sociológica).

Daquilo que sabemos dos átomos, que tendem a agrupar-se, talvez não seja a melhor palavra para cunhar.

Implica que as pessoas são indivíduos separados e que não existe nada para além do indivíduo.

Eu diria que a melhor ilustração de uma perspectiva atomística é uma citação da Margaret Thatcher, uma primeiro-ministra britânica da direita conservadora.

Ela disse, "Não existe uma sociedade; apenas existem indivíduos."

Enquanto não acreditar que a sociedade existe, não a irá ver, nem será capaz de ter qualquer influência na sua organização ou direcção de mudança e crescimento.

Uma forma de comparar as diferenças de perspectiva é observar um jogo de competitividade como é o poker.

Os jogadores estão concentrados em ganhar, e em competir uns com os outros.

Para eles, essa competição afecta a sua perspectiva, e ele vêem a competição como um dos elementos mais importantes do jogo.

Se estivermos perto, podemos ver também que existe uma grande quantidade de cooperação no jogo.

Valores e significados partilhados manifestam-se nessa cooperação.

Existe um acordo, por exemplo, sobre o valor de cada carta, e que um três é maior que um dois.

Muitos destes acordos não são falados e são dados por garantidos, o que contribui para que eles não estejam no topo da consciência ou discernimento dos jogadores.. Ver Jogo de poker.

Do mesmo modo, na sociedade, os "jogadores" nos jogos como o "marketing" podem ver a concorrência mais facilmente do que as regras básicas que estão por trás assim como os significados partilhados.

Margaret Thatcher, uma declarada apoiante de empresas e do empreendorismo privado, tinha uma perspectiva que aumenta a concorrência e ignorava a cooperação.


Três perspectivas sociológicas clássicas:

Na história e desenvolvimento da sociologia, três perspectivas separadas foram criadas e desenvolvidas.

Todas devem as suas origens ao pensamento de como aplicar o método científico ao estudo da sociedade em meados e finais do século XIX.

Karl Marx, que nunca se apelidou de sociólogo, preocupava-se com a competição subjacente entre os recursos.

Ele concentrava-se nas diferenças entre a classe de pessoas que possuiam os factores de produção, a burguesia, e a classe de pessoas que apenas tinham o seu trabalho para vender em troca da sobrevivência, o proletariado.

Da sua análise desenvolveu-se a perspectiva na sociologia que é actualmente desginada de "Conflito".. A dinâmica e as mudanças na sociedade estão ligadas a diversos conflitos.. Ver Karl Marx.

Emile Durkheim teve uma abordagem diferente.

Ele argumentou que podemos olhar para níveis de comportamento e encontrar explicações exteriores aos indivíduos que estão a agir.

Ele viu algum tipo de consciência que agia como se fosse exterior aos indivíduos muito embora estivesse contida nos pensamentos dos indivíduos.

Ele argumentou, ao contrário de Marx, que várias características de elementos sociais contribuem para a vivência e crescimento da sociedade e das suas instituições.

Esta ideia transitou para os dias de hoje como a perspectiva "funcionalista" na sociologia.. Ver Durkheim.

Max Weber também discordou com Marx, mas foi numa direcção diferente.

Ele disse que nós não podemos compreender a sociedade a não ser que compreendamos os significados que as pessoas dão às suas acções e crenças.

Ele argumentou que a revolução industrial foi provocada por uma mudança nos valores e crenças associados às ideias de John Calvin e da Reforma Protestante..

Da sua análise deriva-se a terceira perspectiva sociológica principal, "Interacção simbólica". Ver Weber.

Por mais de um século, os sociólogos travaram grandes batalhas baseadas nestas três maneiras de percepcionar a sociedade tão radicalmente diferentes.

Por vezes, essas batalhas têm eco nos debates actuais.

Tal como o famoso par de família extensas da Appalachia, os Hatfields e os McCoys, as batalhas já cessaram, e houve grande esforço em encontrar formas de reconciá-las.

Apoio a ideia de que todas as três são valiosas, e que devemos internalizá-las simplesmente como maneiras diferentes de olhar para as mesmas coisas.

Ver a história de Os homens cegos e o elefante.

Em cada uma das perspectivas históricas ou clássicas, o objectivo é justificar ou usar uma abordagem sociológica.

O comportamento social não é explicado por teorias psicológicas, nem é um produto da herança genética. (Que se chama "reducionismo").


Sociologia feminista:

Enquanto que algumas pessoas tentaram designar a Sociologia feminista como uma quarta perspectiva, os seus praticantes usam todas as três perspectivas históricas nas suas análises.

Enquanto que existem inequidades e desigualdades baseadas no sexo, estas são iguais às baseadas na idade ou raça.

Diferenças biológicas nas pessoas (idade, raça, sexo) são extrapoladas pelas pessoas que fazem suposições sociais sobre elas.

Estes são tópicos importantes na sociologia, mas não são perspectivas independentes.

Ver: Harriet Martineau.

A sociologia pede emprestada terminologia à linguística neste caso.

Diferenças biológicas (geneticamente herdadas) entre machos e fêmeas chamam-se diferenças de "sexo."

Diferenças sociológicas (transmitidas e guardadas através de símbolos) entre masculino e feminino chamam-se diferenças de "género."


Dimensões culturais:

Se definirmos cultura e sociedade como a soma de tudo o que aprendemos, então é útil identificar seis dimensões de cultura ou sociedade.

Na matemática definimos três dimensões como o comprimento, a largura e a altura.

(Alguns matemáticos acrescentaram o tempo como uma quarta dimensão).

Estas são construções analíticas, e que não existem na realidade empírica.

Acho que muitas das perspectivas e teorias podem ser melhor compreendidas usando o conceito de dimensões.

Tal como na matemática, estas são construções que existem apenas na mente dos observadores.

Na matemática, se removermos uma dimensão qualquer, por exemplo a altura, então, conceptualmente e analiticamente, todo o objecto desaparece.

Assim também acontece no caso das dimensões sociais ou culturais.

Elas são: tecnológica, económica, política, institucional (ou interaccional), valores e crenças.

Estas não são meros aspectos da sociedade, mas dimensões.

Se qualquer uma delas for removida, todas as seis serão removidas.

Todas elas se estendem de toda a extensão da totalidade da humanidade e teorias macro, até à sociologia micro e à interacção local entre tão poucas como duas pessoas.

Estas estão descritas em maior detalhe em "O que é a comunidade?"


Conclusão:

O estudo sociológico da sociedade é uma aventura interessante e desafiante.

Para o cientista puro, revela mais sobre como as coisas funcionam, e as perspectivas sociológicas dão-nos uma perspectiva imensa dos fenómenos sociais.

Para o cientista social aplicado, em particular aquele que considera a intervenção em famílias, comunidades, ou organizações, as perspectivas sociais fornecem material muito valioso para compreender essas instituições, e prever que coisas podem resultar dessas intervenções.

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Ultima actualizare: 2012.06.30

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