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O espírito em nóspor Phil Bartle, PhDtraduzido por Leandro ChuEmbora a maioria dos kwawus que conheci desde 1965 até hoje se dizem cristãos, ainda acreditam e incorporam, em suas vidas sociais e eventos diários, espíritos e personalidades de deuses que antecedem o cristianismo. Igreja cristã Sem entrar em detalhes muito técnicos, esta página contém uma descrição geral sobre o mundo espiritual antigo (ou "tradicional") e referências para outros artigos ilustrados com anedotas e slides feitos durante minha pesquisa de doutorado (1971-79) sobre deuses e ancestrais. Meu objetivo era encontrar vestígios das práticas e crenças religiosas existentes antes da chegada do Cristianismo, introduzido pelos missionários. A maioria das pessoas são sincréticas, ou seja, não vêem diferentes crenças como mutuamente exclusivas, apenas unem os novos conceitos aos já existentes. Contudo, essa característica frustrara bastante os missionários europeus desde o início do século IX, quando se achava que as pessoas estavam se convertendo ao Cristianismo. Mas, na verdade, elas mantiveram as práticas religiosas que os missionários condenavam. Para estes, só havia um único caminho para Deus, um que só eles conheciam. Quando o missionário suíço pietista, Ramseyer, chegou em Abetifi para iniciar sua "Missão Axânti" (os europeus não tinham acesso aos asantes no século IX) — incentivar os kwawus a declararem independência do povo asante —, ele precisou de um lugar para ficar. Então, o cacique de Abetifi e seus anciãos não viram problema em hospedar a família Ramseyer na casa de um dos sacerdotes de um espírito protetor local, chamado de "diabo" pelos missionários, que eram servos de Cristo, o filho de Deus. O povo kwawu acreditava que Deus possuía muitos filhos e filhas: as personalidades que habitavam nas cavernas, montanhas e rios, como os espíritos protetores. "Deus não é uma 'criança jarro'", diziam. Chama-se de "criança jarro" a pessoa que morre sem ter tido filhos. E quando ela morre, além de não ter um funeral, fica conhecida como um ancestral sem valor. Ter muitos filhos é uma obrigação, e quanto mais filhos uma pessoa tem, maior é o seu status. Deus é o todo poderoso, portanto não se pode reduzí-lo apenas a uma única criança. Os missionários, é claro, o viam de maneira diferente, procurando colocá-lo sempre acima das outras entidades. Fazendo libação ao poderoso espírito protetor, Nansing, um rio dentro de uma caverna Os missionários logo perceberam que havia também um diferente tipo de "sagrado", que se referia aos caciques e anciãos que eram as manifestações físicas de seus próprios ancestrais matrilineares. Além da maioria dos missionários serem abstêmios, também, com fundamentos teológicos, eram contra o costume de derramamento de ácool no chão, como o faziam os gregos (antes da chegada do Cristianismo) em oferendas aos deuses e ancestrais. Porém, para iniciar uma missão, os missionários eram obrigados a levar uma garrafa de schnapps à corte do cacique, e derramá-lo aos deuses e ancestrais, pedindo permissão para seguirem com suas missões. O Cacique Supremo sendo carregado em um palanquim fronte aos seus tamboretes Os missionários tinham um certo medo dos tamboretes, pois eles os viam como um entorpecente ou algo hipnótico que viciava os seguidores em um tipo de adoração demoníaca, coloando as pessoas em transes. Hoje ainda existem muitas congregações que proíbem a presença de tamboretes dentro de igrejas — uma maneira de se opor àqueles que desejam "africanizar" o cristianismo e que não viam os tamboretes como moradia de demônios. Por outro lado, muitos missionários atuais vêem o valor espiritual dos tamboretes. Eles dizem que o Cristianismo adotou muitos costumes pagãos quando passou pela Europa, como os ovos de Páscoa e as árvores de Natal. Então, por que não adicionar os tamboretes também? No entanto, havia resistência dos membros de congregações que foram convertidos por missionários mais antigos, que ainda temiam os tamboretes como instrumentos do diabo. Boneca da fertilidade Akuaba Os deuses e os ancestrais habitavam também em objetos manufaturados. Entidades eram vistas como imagens, e estátuas geralmente eram guardadas em salas sagradas separadas especialmente para os deuses nas casas de sacerdotes e sacerdotisas. Os ancestrais dos caciques e dos anciãos ficavam em tamboretes específicos guardados em salas sagradas para os ancestrais geralmente no palácio do cacique ou nas casas dos mais velhos de cada matrilinhagem. Tamborete ancestral tingido de preto enrolado em um pano branco e colocado em cima de pedras
No meu artigo sobre as três cores básicas, os deuses pertencem à uma categoria sagrada branca , e os ancestrais à uma negra. As maiores preocupação dos deuses, sacertodes e sacerdotisas são a saúde, o bem-estar (físico, emocional, mental) e a fertilidade. Ao contrário dos anciãos, dos caciques e dos ancestrais que só se preocupam com questões políticas, tomada de decisões e soluções para conflitos. Nana Akonnedi Komfo vestida para o ritual Odwira Atualmente estou escrevendo alguns ensaios ilustrados como uma extensão desde documento. Alguns são sobre anciãos e ancestrais, e outros sobre sacerdotes e deuses. Veja-os nos links mais abaixo. Há uma outra categoria de espíritos que podem habitar em humanos e objetos. Eles são chamados de elfos, gnomos, forças ocultas (sem personalidades), duendes e coisas chamadas de "bruxas" (bayi, não confunda com a bruxa da religião pagã européia, a Wicca). Estes espíritos não fazem parte da cosmografia principal das três cores básicas. Portanto, eles não aparecem em eventos importantes da organização social, e são geralmente associados à coisas negaticas, tais como azar, infelicidade e espíritos maus derrotados pelos deuses. Gnomos (moetia) são seres que representam os habitantes, caçadores e coletores das florestas, relacionados aos ainda existentes pigmeus e boxímanes (povo de pele pardo-amarelada que habita na África meridional). Dizem que seus joelhos são voltados para trás. Geralmente, pequenas oferendas de frutas e outros vegetais são postos do lado de fora das matas para tranquilizá-los, garantindo, assim, que não saiam da floresta para causar danos às fazendas e casas próximas, como os gremlins e os duendes travessos de origem européia. (Lembre-se do famoso "doce ou travessura" no dia 21 de outubro, quando é celebrado o "Dias das Bruxas" na América do Norte) As bruxas (bayi) parecem principalmente como ondas de histeria social, e são associadas a vários cultos de caça-às-bruxas, como o Tigare, vistos como espíritos caçadores de bruxas trazidos do norte por empreendedores sulistas. As vítimas mais comuns são mulheres idosas, neuróticas e solitárias induzidas a confessar estarem possuídas por uma bruxa, e, então, submeterem-se à um ritual de purificação feito pela pessoa que recebe o espírito caçador de bruxas. Antes dos kwawus se tornarem parte do Protetorado Britânico em 1883, alguns destes cultos faziam a pessoa cometer suicídio para que a alma fosse separada do espírito do mal. Desde então, o ritual de purificação é feito com um tipo de banho específico, evitar certos alimentos e doações regulares aos responsáveis pelos cultos de caça-às-bruxas. Se você viajar até o povoado de onde se originaram tais cultos, o deus local é considerado a verdadeira origem, e seus sacerdotes ou sacerdotisas não aceitarão o culto da maneira que é praticado no sul. Na foto abaixo está um caçador tigare de bruxas, na comunidade de Obo. Ele geralmente comparece para um afahye ou Adae Kese. Matador tigare de bruxa O caçador tigare de bruxas mostrado acima está vestido com um blusão preto (do norte de Gana), em vez de branco, um chapéu de carrasco de pele de macaco, e leva em suas mãos um machado de guerra feito de pedra para matar os espítiros malígnos. Na foto acima ele está em Kwawu Tafo em um afahye, assoprando um apito e tocando o dawuru (gong gong). Veja: http://www.djembe.dk/no/18/28nttd.html Uma interessante prática de bruxaria é chamada de Nzima Bayi, nome dado por um povoado da costa "semi-akan" que fala o guan, perto da fronteira com o Côte d’Ivoire border. Como já era de se esperar, ninguém de Nzima se diz praticante desta prática. Esta é as vezes usada por aqueles que não são kwawu como o motivo das riquezas do povo kwawu. Por não entendem que se pode ter prosperidade através de trabalhado duro e dedicação, algumas pessoas inventam espíritos malígnos como motivo. Assim como na prisão é possível achar pessoas que se dizem inocentes, você nunca achará um kwawu admitindo que pratica o Nzima Bayi, ou mesmo alguém que ofereça tais serviços. A estória é que a pessoa precisa ir a um médium que receba este Bayi, e ofereça importantes sacrifícios para então tornar-se rica. Essa pessoa certamente concordaria em deixar qualquer membro de sua matrilinhagem morrer. Algumas vezes, o caso é diferente do faustiano (em que se vende sua alma ao diabo), pois neste a pessoa sacrifica sua própria vida e compromete sua vida no pós-morte. Fazem o sacrifício para se tornarem ricos, construirem mansões e terem muitos filhos. As pessoas que contam estes rumores, apontam um grande número de casas novas, limpas e vazias em Obo. Mas em minha pesquisa (Resumo), vi que a causa destas casas vazias seria o resultado de uma migração em massa e a vontade de construírem suas casas em suas cidades natais juntamente com negócios lucrativos. Caluniadores (estrangeiros) viam o vazio como prova da morte de parentes sacrificados para o Nzima Bayi. Obo possui muitas casas novas, limpas e de vários andares. A maioria fica vazia a maior parte do tempo As discolorações nas estradas são provas de que ali houve obras. Eu estava numa moradia de um deus local em Obo quando dois jovens de uma cidade vizinha chegaram procurando por proteção contra o azar, já que haviam fracassado diversas vezes ns negócios. Enquanto conversavam com o sacerdote, deixaram claro que, se necessário, estavam dispostos a fazer alguns sacrifícios. Mas o sacerdote enfureceu-se e mandou-os embora na mesma hora. Depois ele me disse que eles, sacerdotes kwawus, consideravam perda de tempo quando gente de fora vinha a procura da origem deste imaginário Nzima Bayi. "Nenhum sacerdote deve tolerar tais práticas malígnas. Ele deve preservar sua reputação para que não o acusem de tais práticas", ele me disse. Falarei mais sobre os papéis e responsabilidades dos sacerdotes e sacerdotisas nas próximas páginas sobre deuses. As duas categorias mais importantes de espíritos, que podem "possuir" ou "habitar" em seres humanos e objetos, são as de deuses (categoria branca) e de ancestrais (categoria negra). Ambas encaixam perfeitamente no sistema tricolor que descrevo em Três almas.
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